Tudo sobre a banda britânica Muse formada por Matt Bellamy, Dom Howard e Chris Wolstenholme.

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The Times

Muse retorna com novo álbum, The Resistance

O novo álbum dos roqueiros de Devon tem traços de Queen, Berlioz, Chopin e Lizst, glam rock e R&B

Quando eram adolescentes, os três membros do Muse costumavam fantasiar que faziam shows no The Den, um espaço gramado que percorre a extensão de Teignmouth, a cidade litorânea em Devon onde eles cresceram. Agora, 10 anos após o seu primeiro álbum, o sonho do trio está para se tornar realidade: por duas noites do próximo mês (dias 4 e 5 de setembro), a cidade receberá cerca de 20,000 fãs do Muse. “Eu realmente estou tentando não pensar ‘eu avisei’”, diz o baterista, Dominic Howard.

Se os shows servem como vingança agora que o Muse lança seu próximoálbum, The Resistance, também dá aos fãs de outros lugares umaoportunidade de visitar um lugar que modelou o Muse definitivamente. Há10 anos, com o lançamento do Showbiz, a banda emergiu na cena musicalbritânica com ainda alguns vestígios de britpop. A mistura de falsete,rock estilo ‘rococo’, influências clássicas e melodrama foi dispensadapor alguns como sendo uma “versão pop de Radiohead”. O baixista, ChrisWolstenholme, que ainda mora na cidade, relembra vividamente essetempo: “Nos parecia que estávamos sozinhos. Não havia cena alguma daqual se pudesse fazer parte. E o que existia musicalmente na Inglaterranaquela época era algo ao qual não nos conectávamos de maneira alguma.”Eu os conheci na época – paranóicos e desaprovadores. E eu era um fã.

 “Nãoera como ser uma entre 2,000 bandas que tocam em Camden a cada mês,”Wolstenholme continua. “Sem nem mesmo ouvir a música, as pessoas seperguntavam, ‘Que banda é essa de… Devon? ’”

Milhões de álbunsvendidos depois, e com uma estante cheia de prêmios de “Melhor Banda AoVivo”, Muse é agora um sucesso internacional. Mas,se a fama da bandacai um pouco, os críticos de plantão logo aparecem Pode parecer algoestranho a se dizer sobre uma banda que, em 2007, esgotou os ingressosde duas noites no recém-reaberto estádio de Wembley em matéria deminutos, mas, de certa maneira, Muse ainda é uma banda de forasteiros.Dando uma olhada nas críticas existentes, você ficaria surpreso com oquão embaraçosos, treinados e, às vezes, defensivos os elogios parecemser. O vocalista, guitarrista e principal responsável pelas músicas,Matt Bellamy, era constantemente ilustrado como – com um pouco deencorajamento do próprio – um cadete espacial, obcecado por teoriasconspiratórias, que escreve canções com títulos como Knights ofCydonia, Supermassive Black Hole e Apocalypse Please e falainsistentemente sobre Berlioz e o Big Bang. Tornou-se fácil retratar oMuse como uma banda calculadamente estranha e musicalmente indigerível,como três pessoas que se levam muito a sério.

Sentado na sacadado belo lugar para ensaios, feito de madeira e vidros, nas colinas dacidade natal deles, Bellamy não parece nem remotamente sério. É, ele jáse lançou numa conversa apaixonada consigo mesmo sobre o Geoism (omovimento de imposto sobre propriedades inspirado no economistapolítico do século 19, Henry George), lamentou sobre o estado atual dademocracia parlamentar, apontou sua mira para bônus bancários e pregousobre as pesquisas de Oliver Sacks sobre o efeito da música no cérebroque estão no seu livro, Musicophilia. Mas Bellamy em breve segue emfrente, com uma risada que lembra um aluno maléfico, para a arte donovo single da banda, Uprising. Eu pergunto se a imagem – um campocheio de ursos de pelúcia em formação militar – será repetida novideoclipe. “Definitivamente gostaríamos de fazer algo com osursinhos,” ele ri. “A ideia é ter um grande grupo deles encenando umarebelião, causando caos; numa marcha de protesto em frente aoparlamento, esse tipo de coisa. Eu sempre achei esse lado da psicologiahumana fascinante; a maneira com que projetamos nossas emoções emcoisas como animais de estimação, brinquedos, objetos. Então um grandegrupo de ursos de brinquedo formando uma rebelião sinistra de pelúciapode ser interessante.

O efeito da música no cérebro de Bellamypode interessar Sacks. Quando ele formou a banda na escola com Howard eWolstenholme, Bellamy escrevia canções inspiradas em sua raiva peloscéticos ao seu redor e seu desespero para escapar de Devon e ver omundo. Um dos primeiros e mais inusitados fãs do Muse foi, nas palavrasde Bellamy, um cara com “jeito de major do exército” que ia a todos osshows da banda e os informou que ele ouvia, na sua música, traços decompositores românticos – Berlioz, Chopin, Lizst – que ele amava.

Umavisita à casa do sujeito provou ser o agente catalisador de umasucessão de álbuns grandiosos. “Nós fomos até lá,” Bellamy relembra, “eele tocou umas gravações ótimas pra gente, num volume extremamentealto. Foi incrível.”

A palavra mais comumente usada paradescrever o Muse é ‘exagerado’. O fato de que The Resistance terminacom o que Bellamy diz ser a “muito ironicamente intitulada” Exogenesis:Symphony – uma sequência de três partes sobre a humanidade abandonandoa Terra e se instalando em outro planeta – vai, sem dúvida, fazer comque esse tipo de palavra seja usada novamente. Para Bellamy, noentanto, seu trabalho é deveras controlado. Ele não é, ele insiste,meramente um “amador” em música clássica; o negócio é mais complicado:“Muitas das canções do Muse eram, na minha mente, muito mais elaboradase mais orquestradas da maneira que eu as ouvia. Eu sempre as imaginosendo tocadas por uma orquestra sinfônica, ou cantadas por um grandecoral. Se você tem uma imaginação ativa assim, você vai se sentiratraído pela música clássica. É difícil não soar distante, mas, se forassim, eu sou amador é no rock. As pessoas associam a banda à ficçãocientífica, teorias sobre o universo, sobre geopolítica e essas coisas,e eu certamente falei bastante delas, mas acho que uma das razões pelasquais eu fui para esses temas é porque, quando ouço ou penso sobre umamúsica, ela pode conjurar sentimentos, emoções e ideias muito grandes ede cunho existencial.

 “Se eu estivesse ouvindo Berlioz ouBeethoven no século 19, eu provavelmente teria te dito, ‘Estou ouvindoo som de Deus.’ No mundo atual, e dado o fato de que eu não soureligioso, eu me volto para outros assuntos, sejam eles ideias sobre oespaço ou questões políticas.”

Antes de chegar a Exogenesis, oálbum brinca com estilos que vão do glam rock ao R&B, de música queparece estar desintegrando Bach até momentos onde grande explosões devocais à la Queen dão lugar a uma peça de Chopin, ou um excerto de umaópera de Saint-Saëns se dissolve em uma paisagem que conjura um show decabaré de Weimar particularmente maligno. Se você for um ouvinte demúsica ortodoxo, esse álbum não é para você. Para amantes de uma dietasônica rica e muito variada, no entanto, The Resistance é um pratocheio.

Liricamente, mostra as preocupações de Bellamy comprotesto e representa o impacto que 1984, de George Orwell, teve neleenquanto ele escrevia o álbum. Mas as coisas nunca são sérias demais.“Quando estávamos gravando Eurasia,” Wolstenholme lembra, “nósestávamos rolando pelo chão rindo. E pensamos ‘não podemos tirar essaparte, porque aí não vai mais nos fazer rir.’”

Bem, eles estãorindo agora. Dois shows na sua cidade natal ao lado do mar. Arealização de que eles talvez não precisem mais se ver comoforasteiros. E, com sorte, um fim às críticas com elogios culpados eembaraçosos. Muse fez um álbum genioso, brilhante e belo. Para quê serdefensivo quanto a isso?

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