Tudo sobre a banda britânica Muse formada por Matt Bellamy, Dom Howard e Chris Wolstenholme.

Instagram Facebook Twitter

Yahoo! Music

Uma entrevista com o ‘guitar hero’ do Muse, Matt Bellamy

O próximo álbum da banda, sexto da sua carreira, intitulado “The Resistance”, um nome muito apropriado – já que a resistência é inútil quando o assunto é Muse. Durante a última década, o poderoso trio inglês tem quietamente (bem, não exatamente quietos, pois tudo que eles tocam é incrivelmente alto, mas ainda assim lentamente, e bem sorrateiramente) criado uma base de fãs devotos através de turnês incansáveis, e agora estão finalmente aptos a se tornarem A Maior Banda Do Mundo TM.

Com canções na trilha sonora do recente filme Crepúsculo e no GuitarHero 5 (Supermassive Black Hole e Plug In Baby, respectivamente), umaperformance agendada no Vídeo Music Awards 2009 da MTV americana, eelogios de Adam Lambert, do American Idol (que atualmente está fazendoum cover de Starlight na sua turnê), Muse está para decolar de famalevemente massiva para, bem, super-massiva. Poucas bandas estão criandoo tipo de rock sinfônico exagerado que é o som característico do Muse,e essa é a vez deles.

O vocalista e guitarrista Matt Bellamy –cujo terno vermelho, cabelo arrepiado e empolgação no palco foramrecriados digitalmente para o jogo Guitar Hero 5, e cujos incríveisriffs inspirarão muitos jogadores a destruir em níveis avançados –recentemente conversou com a Yahoo! Music não só sobre se tornar umpersonagem digital, mas também, é claro, sobre o novo e ambicioso álbumdo Muse, além de planos para sua inevitável dominação mundial.

É inútil resistir. Leia agora:

Y! Music:Então, eu dei uma olhada seu personagem no Guitar Hero e ele é ótimo.Como você se sente ao se ver numa forma de avatar de Guitar Hero?

Matt:É bem bizarro, na verdade. Eu pensei que eles fossem me fazer um poucomais musculoso do que na vida real! Mas isso deve fazer parte domarketing ou coisa assim. Foi bem divertido de se fazer, na verdade. Eutive de usar uma roupa apertada com umas bolas de pingue-pongueestranhas grudadas por todo o meu corpo e basicamente, me fazer de bobona frente de um monte de gente. Mas foi ótimo, foi ótimo!

Y! Music: Pois veja só, eu não sabia que eles faziam isso. Pensei que só estudassem seus movimentos no palco e fizessem uma imitação.

Matt:Não, eles gravam seus movimentos, então eu basicamente estava fazendomímicas ao som de Plug In Baby, como se estivesse num show, e estavasegurando uma guitarra. Motion capture, acho que é assim que eleschamam. Eles meio que capturam todos os seus movimentos, colocam seuavatar nisso e ele se move exatamente como você. É legal.

Y! Music: É meio que mais um sinal de que você “conseguiu”, quando você vira um personagem do Guitar Hero.

Matt.[risos] É, provavelmente! Definitivamente é um tipo de elogio, sim.Meio que me deu um gostinho, na verdade – me fez pensar se poderíamosfazer um jogo completo, com toda a banda envolvida, para que pudéssemoster uma versão da bateria e do baixo também. Algumas bandas já fizeramisso, e fizeram jogos meio baseados na história dos seus álbuns. Euacho que seria legal fazer algo assim.

Y! Music: Seria legal, mas temo que, se as pessoas tentassem tocar Knights of Cydonia, ficariam realmente exaustas!

Matt:Na verdade, essa música está no Guitar Hero 3! Acho que é uma daquelasdifíceis, em que você precisa ter um certo nível pra poder tocar![risos]

Y! Music: É, certamente é uma cançãodifícil. E isso me leva ao assunto de que o seu novo álbum está prasair… Eu ouvi falar que ele tem uma canção que seria ainda maissuper-difícil, Exogenesis. E é uma canção de três partes!

Matt:Isso resultou de nós, quer dizer, eu, me meter com trabalhosorquestrados. É algo pelo qual eu sempre me interessei. Eu sempregostei bastante de música clássica, músicas de filmes e esse tipo decoisa, e sempre procuro maneiras de incorporar isso a uma banda de rocke ao que fazemos como uma banda de três pessoas. Em álbuns anteriorestocamos nisso, mas nesse álbum gravamos três ou quatro canções que sãomeio que a fundação do álbum, e depois disso pensamos que poderíamosfazer algo um pouco mais experimental e fazer coisas mais incomuns. Euma dessas coisas foi fazer uma sinfonia progressiva de três partes![risos] Eu não sei outra maneira de chamá-la! Mas eu gosto de pensarque não fomos extremamente extravagantes com os instrumentos, sendo queé orquestrada. Acho que dá pra ouvir que ela foi muito influenciada pormúsicas de filmes do século 20, música clássica e romântica do fim doséculo 19 e século 20. Para mim foi um desafio aprender a orquestrarpela primeira vez, com eu mesmo fazendo os arranjos para uma pequenaorquestra – trabalhando com os violinos, as violas, violoncelos,contrabaixo, até timbales, trombones, e vários outros… Aprender sobreo alcance dos instrumentos e o que eles podiam ou não podiam fazer. Foium desafio bem interessante, traduzir sua música para outros músicos,sabe?

Y! Music: Acho que li que você disse que havia sido a ‘canção mais difícil’ do Muse…

Matt:Mais difícil em termos de que foi certamente a que levou mais tempopara ser trabalhada. Demorou o maior tempo para ser escrita, para serarranjada, depois para ser gravada e tudo o mais. Deu bastantetrabalho. Acho que foi uma daquelas coisas que aconteceram porque nósmesmos estávamos produzindo o álbum. Você tem mais tempo pra investigarcoisas quando não está trabalhando com alguém que fica colocandopressão pra você acabar tudo logo. Sempre penso que essa canção nãoteria acontecido se o álbum houvesse sido produzido por outra pessoa,porque acho que nenhum produtor teria permitido que a fizéssemos![risos]

Y! Music: É por isso que demorou tanto tempo desde o seu último álbum? As pessoas estão famintas por mais Muse!

Matt:A cada álbum tentamos fazer algo que, de alguma maneira, modifica oprocesso de trabalho ou criativo. Nós trabalhamos em lugaresdiferentes, ou com um produtor diferente. Dessa vez, decidimosconstruir nosso próprio estúdio, e também produzirmos nós mesmos. Entãoessas duas coisas foram as coisas que escolhemos fazer para que  fossediferente. Mas acontece que foram coisas que demoraram bastante tempo!Leva bastante tempo pra construir um bom estúdio e, também, quando vocêmesmo está produzindo, há bastante aprendizado para ser feito, sabe?

Y! Music:Uma coisa que eu acho que é um benefício, é que a carreira do Museparecer ser o oposto da carreira da maioria das bandas, sendo quevocês, através dos anos, foram permitidos crescer e se tornarem maiorescom cada álbum. Normalmente acontece o oposto, e a maioria das bandasnão tem esse tempo para evoluir.

Matt: É, decerta maneira é meio que à moda antiga, mais parecido com o queacontecia com as bandas nos anos 70 ou 80, onde você ganhava seus fãs eas pessoas te conheciam só através das suas extensas turnês. Nósfizemos turnês em todos os lugares. Até mesmo em lugares onde nãolançamos CDs, como a América do Sul, leste da Ásia, e, realmente,ganhamos fãs por causa das turnês, mais que tudo. E também usando ainternet – acho que a internet é algo que realmente ajudou, certamentecom essa nova onda. Acho que, de certa maneira, estamos fora daregulamentação de marketing que a maioria das gravadoras tenta colocaras bandas dentro. Acho que, às vezes, a abordagem que elas fazem, podemdanificar um artista; às vezes é melhor deixá-los se desenvolverem semmuita pressão, especialmente nos primeiros anos. Algumas bandas têmmuito peso posto nas suas costas logo no começo, e isso pode fazê-losperder o interesse ou distraí-los completamente do que deveriam estarfazendo, que é fazer boa música e ser uma boa banda ao vivo.

Y! Music:Muse obviamente já possui um certo nível de grandeza nos EUA, mas eutenho uma impressão de que esse álbum, The Resistance, é o álbum quevai fazer de vocês superestrelas aqui, fazer as coisas virarem umaloucura.

Matt: Ha! [risos]

Y! Music:Eu simplesmente sinto. Há tanta coisa ligada à vocês agora, muitascoisas se alinhando, como a trilha sonora de Crepúsculo, os VMAs, AdamLambert fazendo o cover de Starlight… Você ficou sabendo do cover doAdam?

Matt: Sim, eu vi um vídeo disso noYouTube, achei que fosse um bom elogio, na verdade. Sempre é legalquando alguém faz um cover da sua música. É um dos melhores elogioscomo músico e também como banda, que outra pessoa queira adotar uma dassuas canções. Foi legal, sabe. Uma versão interessante.

Y! Music:Ele tem falado bastante sobre vocês. Até na ‘Noite do Jazz’, doAmerican Idol, ele fez um cover de Feeling Good que foi inspirado nasua versão. Ele tem dado a vocês publicidade adicional aqui nos EUA.

Matt: É, é legal! Eu acho muito bom. Ele vai fazer um álbum em breve?

Y! Music: Sim, sai agora na primavera.

Matt: Ok, legal. É, vai ser interessante ouvir isso.

Y! Music:Então, acontecimentos como esses estão colocando o Muse na consciênciapública, e eu tenho a impressão de que esse próximo álbum vai ser oálbum que vai fazê-los enormes, enormes como o U2, aqui nos EUA!

Matt:[risos] Não tenho muita certeza! Talvez isso nos leve mais uma décadaou duas! Mas é, nosso terceiro álbum [Absolution] foi, de certamaneira, visto como se fosse o nosso primeiro nos EUA, porque muitagente nunca tinha ouvido falar de nós antes. Foi bem empolgante, porquefoi uma chance de nos sentirmos como uma banda nova de novo. Às vezes,quando uma banda chega no seu terceiro ou quarto álbum ela meio quecomeça a ir mais devagar, mas o que aconteceu conosco foi que, com osdois primeiros álbuns, ficamos bastante conhecidos pela Europa e empartes do Japão e da Austrália, mas éramos completamente desconhecidosnos EUA. Aí lançamos o terceiro álbum, e estávamos assinados com aWarner, e ele foi visto como um primeiro álbum nos EUA. Então quandofomos pra lá nos sentimos muito energizados, como se fôssemos uma bandanova de novo. E nós éramos bem jovens e achamos tudo muito empolgante,então aceitamos tudo e fizemos muitas turnês. Isso foi o que nosmanteve frescos. E os dois últimos álbuns parecem ter ido muito bem nosEUA e, com as turnês, cada vez que vamos para uma cidade, mais pessoasaparecem nos shows. Então eu estou muito animado para voltar – e,aliás, nós abriremos para o U2 nas primeiras semanas da nossa turnê!Isso deverá ser interessante, aprender alguns truques com eles.

Y! Music: Wow! Vai ser um bocado de rock’n’roll num palco. É demais.

Matt: É, vai ser bom!

Y! Music:Vocês acham que precisam se superar a cada álbum? Todos os álbuns doMuse são bem ambiciosos, mas vocês pensam que precisam se superar?

Matt:Se superar? Acho que pensamos assim, desde que ‘superar’ queira dizerfazer algo completamente diferente, e não melhor. Acho que, às vezes,só queremos achar algo novo, algo que ainda não falamos sobre, nasletras, ou algo novo na música que queremos que seja lançada. Entãosim, acho que em alguns casos tentamos dar uma melhorada em certascoisas que tentamos em outros álbuns, mas em outros casos só estamosprocurando algo novo para fazer.

Y! Music: Você falou sobre influências da música clássica – isso foi algo só em Exogenesis ou em todo o álbum?

Matt:Há uma canção chamada I Belong to You que tem um pouco dessainfluência: tem uma parte tirada de uma ópera francesa chamada Samsonet Dalila, por Camille Saint-Saëns. E também no fim de uma músicachamada United States of Eurasia tem um pedaço de uma canção do Chopin.Então eu joguei algumas referências clássicas no álbum, e acho que, decerta maneira, isso é um tema. Mas há também outras faixas que são só obom e velho rock, como Uprising ou Unnatural Selection.

Y! Music:E os temas das letras? No último álbum, Black Holes & Revelations,parecia haver alguns conceitos gerais relacionados com o espaço e com apolítica. E nesse álbum?

Matt: É, eu li o livro1984 quando estava na escola, e só me concentrei no lado políticonaquela época, mas aí eu li esse livro de novo recentemente e dessa vezeu gostei muito da história de amor nele – aquela entre Winston eJúlia. A ideia de uma história de amor trágica com um plano de fundopolítico, sabe? Eu queria criar algo que tivesse esse sentimento. Não étão influenciado pelo livro, mas pela ideia de um romance sedesenvolvendo no meio de conflitos políticos. Esse é o tema geral doálbum, eu acho.

Y! Music: Muito legal. Vocêmencionou United States of Eurasia. Você pode me falar sobre como vocêslançaram recentemente partes da música pelo mundo em drives USB?

Matt:Essa canção foi influenciada por um livro chamado The Grand Chessboard(O Grande Tabuleiro, em tradução livre), escrito por um grandeconselheiro de geopolítica externa [Zbigniew Brzezinski]. Ele falavasobre a Eurásia como se fosse um tabuleiro de algum jogo, quase – émeio Dr. Fantástico, você imagina esses caras loucos sentados noconselho de relações externas falando sobre essas enormes e loucasideias geoestratégicas. Eu achei todo o negócio bem interessante e,nessa canção, a música tenta ter um sentimento exagerado emegalomaníaco. Achamos que era uma das melhores faixas do álbum, entãoqueríamos que fosse uma das primeiras a serem ouvidas pelas pessoas.Então pensamos em criar alguma coisa na Internet que incorporasse oconceito do grande tabuleiro. Nós basicamente dividimos a canção emseis segmentos e os colocamos nesses USB codificados que espalhamos pordiferentes partes da Eurásia, e demos aos fãs códigos para decifrar. Etínhamos agentes de “faz de conta” secretos, à paisana que haviam lidoo livro, e, se os fãs o dissessem certa palavra-código, eles pegariam oUSB. Isso tudo gradualmente destrancou a canção à medida que ia atravésda Eurásia. Então a parte final foi em Nova Iorque, e a ideia era: seos EUA reconhecessem os Estados Unidos da Eurásia, aí lançaremos o mp3de graça. Foi um jogo divertido, mas também tinha um relacionamento como que havia inspirado a canção.

Y! Music: Euadoro o quão ambicioso o Muse é. Vocês realmente fazem as coisas,realmente exageram em todos os aspectos do que fazem. A maioria dasbandas, infelizmente, não faz isso hoje em dia. Por que não há maisbandas ambiciosas como vocês?

Matt: Parecedefinitivamente ser uma época calma, nesse momento. Acho que, de certamaneira, a indústria musical tem se degenerado um pouco. Mas acho que,da mesma maneira, está se resumindo aos artistas que realmente estãonesse ramo porque amam música, e amam tocar – em oposição aos artistasque estão nessa porque querem ser famosos ou querem ficar ricos. Achoque as pessoas que escolhem a última opção estão fazendo outras coisasagora – tentando estrelar filmes, fazendo isso e aquilo. Mas acho queuma das coisas boas que estão acontecendo com a indústria da música éque ela está se livrando das pessoas que estão nessa pelas razõeserradas, e está deixando só as pessoas que amam música e tocar ao vivo.Esses são os artistas que vão durar, e eu espero que nós sejamos umadessas bandas.

Leave a Comment