Tudo sobre a banda britânica Muse formada por Matt Bellamy, Dom Howard e Chris Wolstenholme.

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[Entrevista] LA Times

Hoje foi publicada uma entrevista no “Los Angeles Times”. Confira a tradução:

Finalmente, os ianques descobriram o Muse

A banda britânica de art rock demorou para pegar nos EUA, mas isso acabou. O Muse está concluindo uma turnê de seis meses no Coachella Festival.

Era uma noite fria de março, mas o TD Garden em Boston estava cheio e a plateia havia feito Matthew Bellamy do Muse ficar de joelhos. Ou talvez não tenham sido os fãs que fizeram com que o vocalista, guitarrista e principal força criativa por trás do Muse se movesse como se tivesse sido dominado pela emoção. Foi a música, um som metálico com sobreposições clássicas e um forte ritmo.

 

Ele correu por um palco high-tech que coloca ele e os seus colegas de banda, o agressivo baterista Dominic  Howard e o calmo baixista Chris Wolstenholme, em cima de mini-arranha-céus, que evocam os ameaçadores prédios de 1984, uma obra de George Orwell. O palco, combinado com a música, pareceu tão visceral quanto um golpe na cabeça.

Os quase 15 mil fãs absorveram a energia. Perto da primeira fila, duas garotas dançavam enquanto uns garotos aparentemente intelectuais e indie chegavam perto delas. No entanto, em questão de minutos, os sabichões perderam sua compostura e começaram a sacudir seus punhos no ar e a cantar cada palavra dita por Bellamy.

Muse é uma daquelas bandas que os criadores de opinião obcecados pela atualidade não notam até que elas se tornam extremamente famosas. O trio de art rock do litoral inglês de Teignmouth têm conseguido primeiras posições nas paradas mundiais há uma década e, depois de um começo lento na América, está finalmente conseguindo visibilidade por aqui.

A banda passou os últimos seis meses numa turnê que incluiu o Madison Square Garden, em Nova Iorque, e terá seu climax no festival Coachella, na noite de sábado.

O efeito do show de Boston foi rock clássico, mas não pareceu à moda antiga, mesmo se uma aspiração relembrasse outra era. “Nós estamos meio que numa busca para trazer de volta o rock de estádio, pelo menos para as bandas atuais,” disse Howard no backstage, antes da banda se apresentar. “Não se trata apenas da música quando você vai a um show daquele tamanho; trata-se de olhar para as 80 mil pessoas que estão lá e pensar ‘Caramba, isso aqui é bom’.”

Que tipo de banda pode competir com reis de estádio como os Rolling Stones? Uma cujo líder toca Liszt para se divertir e cujas canções têm títulos como “Thoughts of a Dying Atheist”?

Dividindo o local onde o art rock se torna ‘tocável’ em radios – e dançante – está a contribuição do Muse para a inesperada ressureição desse subgênero e seu primo cabeludo, nascido em 1970, o prog rock.

Os anos 2000 tornaram-se uma época cheia de fantasias de rock com som clássico e conceitos exagerados. O Radiohead continua sendo a banda mais influencial dessa era; estrelas indie como os Dirty Projectors, Joanna Newsom e The National mostram artistas treinados em música clássica que criam música para além dos concertos.

A questão é quem traria esse tipo de ambição para as massas que adoram bandas como Nickelback e outras mais velhas como U2, com quem o Muse esteve em turnê ano passado.

O status de banda de estádio, na verdade, já é uma realidade para o Muse. Durante a última década, o grupo foi a atração principal de uma edição do enorme festival inglês Glastonbury e tocou duas vezes no Wembley Stadium, em Londres. As turnês intensivas foram o que conquistou os fãs nos EUA, e combinadas com o suporte da autora de Crepúsculo, Stephenie Meyer – músicas da banda apareceram em duas trilhas sonoras da franquia, e ela disse que eles inspiraram seu trabalho – e presença cada vez mais frequente nas rádios, o Muse se tornou muito popular, sem precisar de qualquer moda de “banda do momento”.

Até o momento em que a plateia cantou junto a ode ao cyber-sexy Plug In Baby, os balões foram soltos e as harmonias do Queen foram executadas em Knights of Cydonia, Bellamy bancou o guitar hero, o pianista virtuoso e o lobo alfa uivando para a Lua. Howard e Wolstenholme mergulharam no momento e não deixam ele fugir.

O show acaba e as luzes são acesas revelando uma plateia demograficamente variada, composta por adolescentes aparentando serem emo, caras eufóricos com cabelos presos em rabos-de-cavalo e jovens moças cujas roupas igualmente jovens estão agora um pouco desarrumadas. O Muse trouxe de volta o rock, sem vergonha e sem perder sua genialidade. Foi bem como Bellamy havia dito que seria numa entrevista antes do show.

Uma banda moderna

Bellamy estava sentado perto de uma arara de roupas cheia de camisas com glitter num camarim escuro, mas ele parecia mais um escritor nova-iorquino do que um rock star. Pode-se até chamá-lo de garboso. Ele me mostrou o que estava lendo (Richard Dawkins sobre evolução) e mencionou como gosta de Mendelssohn. Ele se animou quando falamo de coisas como capitalismo corporativista, o efeito espiritual da mídia social ou como é estranho ser um canal para o tipo de fervor obsessivo que o epic rock pode inspirar.

“Às vezes eu realmente sinto que são as emoções de outras pessoas que estão vindo para mim e eu tento entendê-las e expressá-las de volta”,

 Matt disse sobre o espírito que o infunde. Certamente há muitos fãs tentando saber como é dentro de sua mente.

De fato, a ascenção do Muse se alimenta da combinação estranha de solitude e mentes coletivas da internet. As canções complicadamente construídas da banda são perfeitas para a ponderação solitária e a exposição de conclusões em fóruns.

O trio têm tocado junto desde que seus membros eram jovens adolescentes e tem um forte sentimento de unidade autodidata. A visão de Bellamy, que dá direção ao negócio todo, é tão grandiosa quanto é obsessiva. O seu impulso de construir mundos, exemplificado pela odisséia espacial de 13 minutos, “Exogenesis: Symphony”, retruibui a atenção de fãs obsessivos.

Chame de prog rock para garotas, ou art rock para namorar. Injetanto sexualidade e emoções exageradas na estrutura do rock progressivo, o Muse acaba ficando com o que pode ser um estilo musical único.

Tom Whalley, chefe-executivo da Warner Bros. Records, que trouxe o Muse para a gravadora, vê o ecleticismo do grupo como a chave. “Eles são muito mais do que parecem,” ele disse numa entrevista de telefone.

 “A sensibilidade do prog rock como a conhecíamos, nos anos 70, trata-se somente de um guitarrista ou um baterista tocando o mais rápido que pudesse. Mas esses caras criam um som que dá pra dançar junto.”

E tem a voz de Bellamy, uma caracteristica marcante da banda, que possui tanta força quanto clareza de um rocker, envolvida pela vibração de um cantor tenor, e é a razão pela qual o Muse é cheio de comparações com Radiohead e Coldplay. Como Thom Yorke e Chris Martin, Bellamy pode realmente abrir-se e lamentar-se.

O introspectivo Bellamy poderia ter se tornado apenas outro cantor melódico de quarto, escrevendo sinfonias no laptop, se não fossem seus amigos de longa data Wolstenholme e Howard,  seus companheiros de banda fixos desde que o trio solidificou o line-up do Muse.

“Pra mim, a música é o efeito geral” disse Wolstenholme, um pai afável que fumou seu cachimbo enquanto conversavamos e jantavamos em um canto do TD Garden’s.

“E é assim que operamos quando estamos fazendo música. É agradável ter os poucos momentos onde você pode se exibir durante uns 5 minutos ou até 5 segundos, mas a música não deveria resumir-se a um instrumento”.

Foi uma aproximação trabalhada muito bem pela banda. “A arma mais poderosa do Muse é ter em seu arsenal a coragem em performances ao vivo” escreveu Laura Ferreiro, editora da Costa Ocidental  da revista inglesa NME em um email. “As plateias do Reino Unido viram isso há muito tempo. Eu achei que eles iriam tomar conta dos Estados Unidos com sua apresentação no Lollapalooza 2007. O timing não deu certo… mas eu acredito que o Muse possui o porte necessário para tornarem-se tão grandiosos nos Estados Unidos quanto são na Europa.”

O que aconteceu quando os três humildes integrantes do Muse pisaram no palco do TD Garden deu a crer na predição de Ferreiro. O espetáculo começou com potência máxima e continuou aumentando, o setlist mostrando partes da carreira inteira do Muse com a multidão respondendo aos gestos de Bellamy com gritos até  ‘Exogenesis’, que deu lugar a Stockholm Syndrome no fim do show.

“Há alguns momentos Spinal Tap¹ “, disse Matt com um sorriso. “Não é como se estivéssemos contando piadas. Está mais para uma falta de vergonha. Nós nos deixamos levar por certas canções onde você pode expressar certas emoções melodramáticas, irregulares ou histéricas sem vergonha. Esse é um sentimento bem libertador, na verdade. E as pessoas gostam disso.”

Fonte: Los Angeles Times

¹ Spinal Tap:  Banda fictícia do filme “This is Spinal Tap”, que no filme é uma sátira as bandas inglesas dos anos 70 e 80.

Written By

Drone Master, mandante do crime, designer, programadora, amante de Muse mais do que a mãe (mentira, até porque a mãe ama Muse também) e também de Arctic Monkeys. Rondam-se boatos de que ela não seja Homo sapiens e sim Canis lupus.

Comments: 3

  • AnaaBanana

    14 de abril de 2010
    reply

    Talitaa, parabéns pelo trabalho de tradução, ficou lindo!!!
    matéria ótima, aliás. Art rock, cara!!!

  • wiriansu

    14 de abril de 2010
    reply

    Traduçâo perfeita(a matéria está ÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓTIMA).

  • john

    15 de abril de 2010
    reply

    Talitão Rulez..e ainda corrigiu umas partes minha fail s2′

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