Tudo sobre a banda britânica Muse formada por Matt Bellamy, Dom Howard e Chris Wolstenholme.

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[Entrevista] Rolling Stone espanhola

Em clima de eleições na Inglaterra, Matt Bellamy fala ao repórter da revista Rolling Stone da Espanha sobre Parlamento, lobistas, maus lençóis em turnê e, ainda, sobre o desejo de tocar com uma orquestra em uma mini-turnê. Será que a nossa Sala São Paulo, que é considerada a sala com melhor acústica do mundo, ou o Teatro Municipal estariam inclusos no projeto?

Matt Bellamy (Cambridge, 1978) se esconde usando o nome de Héctor Berlioz em um quarto do Hotel Mondrian, em Los Angeles. É um pouco mais de meio-dia de 12 de abril e o líder do Muse ainda está sonolento, mas com bom humor. Depois de meses em turnê pelos Estados Unidos e Canadá, pode dizer: “Parece que finalmente conseguimos aqui”. O entusiasmo é geral: na banda, ao seu redor, no público, na imprensa que elogia seus shows espetaculares… Tom Whalley, o “chefão” da Warner Bros, sua gravadora nos EUA, opina que “Muse pode ser tão grande quanto quiser”. Mas Matt só quer se concentrar em ser uma grande banda ao vivo. A julgar pelas crônicas ianques, estão em bom caminho. Em todo caso, não se tira do vocalista o sonho da fama, e pode-se dizer que nem a música. Assim que passamos a falar de coisas que realmente o importa.

Tem tido tempo de acompanhar a sexta temporada de ‘Lost’?

Sim. Tenho visto na televisão americana. Creio que perdi alguns episódios, mas o resto eu pude ver.

E qual é sua opinião sobre o que tem visto?

Eu acho que o começo da temporada foi um pouco merda, um pouco idiota, mas melhorou muito. Meu episódio favorito desta temporada é “o do Richard”.

Tem alguma idéia de como a série pode terminar?

Acho que Lost se transformou em um conto alegórico sobre Bem e Mal, certo? Me dá um pouco de pena, porque eu esperava uma explicação mais científica. Suponho que o final da série terá algo a ver com Jacob e o outro cara, Gordon, ou qualquer que seja a sua encarnação. É uma grande referência à religião. Eu queria algo empírico, científico.

A turnê pela América do Norte termina na próxima semana e vocês não voltarão para turnês até o fim de maio. O que vocês farão neste tempo?

Não tenho nem idéia. Antes da turnê ensaiaremos. Antes disso não tenho idéia.

Você estará na Inglaterra para as eleições de 6 de maio?

Sim, certeza.

Vai votar?

Sim.

Em quem?

No Partido Liberal Democrata, só porque são diferentes. O povo da Inglaterra está cansado de tantos anos de trabalhistas e conservadores. Será bom experimentar algo diferente.

Qual é seu palpite?

Um Parlamento minoria. O Partido Liberal Democrata terá que colaborar com um ou outro partido majoritário, segundo quem ganhe. A política de partidos é um problema, tem que acabar. É um sistema antiquado que sequestra a democracia. É ridículo. Você vota em um político que representa seu distrito, teu povoado ou pequena cidade e espera que essa pessoa legisle ou vote por políticas de acordo com o que essa pequena cidade espera. Mas essa pessoa chega a Londres, se esquece do que sua gente pede e, às vezes prejudicando sua própria comunidade, faz o que o seu partido quer. E seu partido quer o que os lobistas querem. Enfim. A única maneira de parar com isso é terminar com a política de partidos, e que a representação seja de efeito local.

Um Senado acima do Parlamento, uau.

Bom, também teremos isso. Os Lordes são nossos senadores. Mas não se vota neles, são selecionados pela Rainha e pelo Parlamento. Assim…

Apenas Gordon Brown ou David Cameron podem se transformar em Primeiro Ministro. Talvez uma vitória de Cameron possa servir de inspiração para o próximo álbum…

[Risos] Confiarei nos Liberais Democratas. Eles tem algumas ideias progressistas interessantes. Mas, infelizmente, suponho que tudo continuará igual.

Cameron se encontrou com Barack Obama e o presenteou com três discos: Um do The Smiths, outro da Lily Allen e outro do Gorillaz. Gostaria que ele tivesse entregado um do Muse?

[Risos] Não, com certeza não. Não gostaria de ter nada a ver com o gosto musical de David Cameron.

Ouvi dizer que você gostou da ideia de escrever a música para o próximo filme de James Bond.

É uma possibilidade sim. Seria muito interessante. Trilhas sonoras de filmes sempre me influenciaram muito. Também há possibilidades de fazer toda a trilha para um filme, não apenas a música tema.

E uma música para a Copa do Mundo da África do Sul?

Seria genial, mas muito difícil. Teria que encontrar algo que fosse comum ao mundo todo.

Não. Me refiro a uma música para a seleção inglesa, já que parece que a Federação reutilizará a “Three Lions”, de 1996.

Para a Inglaterra? Não faria uma música para alguém que vai perder [Risos]. Seria um movimento muito arriscado.

Durante esta turnê, em particular pelo sucesso de vocês nos Estados Unidos, existe a sensação de que vocês alcançaram o ápice. Você se sente assim?

Não.

Não digo ‘o’ ápice, mas sim ‘um’ ápice.

Nós desfrutamos dando grandes shows, sendo uma grande banda ao vivo. Desfrutamos de nossa boa  relação com nossos roadies. Gostamos da ideia de tentar trazer o show a um nível superior. Não estou nada interessado em ser famoso, apenas em estar em cima do palco.  Nele sim posso entreter. Fora não. Nenhum de nós três quer se comprometer com nada que não seja fazer música.

Você já tem em mente alguma atitude futura?

Sempre quisemos fazer uma parceria com uma orquestra. Mas não falo de um disco e sim de uma apresentação, um show, algo assim. Uma série de shows em uma série de cidades específicas, em teatros. Não uma turnê, uma mini-turnê. Mas, em todo caso, temos muitos e grandes shows pela frente esse ano – uma turnê europeia por estádios – para pensar em algo que não seja em curto prazo.

Falando da turnê europeia. Na Espanha, vocês tocaram no estádio Vicente Calderón, um lugar em que só se atrevem “vacas sagradas” como U2 ou os Rolling Stones. O que isso significa para o Muse?

Somos humanos que assumem riscos, e queremos nos meter nesse grupo. É triste que apenas bandas dos anos sessenta, setenta e oitenta dêem este tipo de show. Nós queremos devolver os shows em estádios aos jovens. É uma experiência energética. A atmosfera de um show em estádio, seu ar de evento esportivo, ou de gladiadores, gera uma grande comunhão, as pessoas sentem que estão juntas em algo. É importante para os mais jovens, agora que estão sendo abandonados por seus governos e pela situação política e econômica. Acho que é importante que tenham isso. E espero que nós consigamos dar isso a eles.

O palco de vocês é sensacional. Vocês aparecem entre três torres, a uma altura de algo próximo a cinco ou seis metros. Em quem se inspiraram?

Tiramos isso do livro 1984, de George Orwell, cuja influência também foi importante no álbum [The Resistance, 2009]. As torres representam os diferentes ministérios que aparecem no livro e a ideia era de que nós estivéssemos presos nos ministérios até que conseguíssemos escapar e continuar o show. Mas o orçamento nos obrigou a reduzir o que pensamos a estes três blocos. Os ministérios de 1984 eram quatro, em todo caso.

E eram pirâmides.

Isso será visto em Madrid e na turnê europeia em estádios. O que vamos mostrar é uma pirâmide que é como um edifício de escritórios, governamental, e o palco estará incluso nessa estrutura.

Mas sobre a Espanha. Em uma entrevista para a imprensa inglesa, você disse que a pior experiência que teve em uma turnê foi aqui, e tinha algo a ver com um salchichón¹.

[Risos] Foi em nossa primeira turnê europeia, com o nosso primeiro disco, Showbiz. Sou um grande fã dos alimentos embutidos curados¹ que vocês tem na Espanha: o presunto, o salchichón², a linguiça… Não me lembro se isso aconteceu em Madrid ou Barcelona, mas depois do show me lembro que tinha muita comida. E em algum momento alguém me deu este salchichón fenomenal com uns 30 centímetros e eu o comi quase em uma mordida só. Claro, enquanto isso estava bebendo muitíssimo, estava muito bêbado. Era muito jovem, então. O caso é que a combinação de tanta bebida com esse grande salchichón foi letal. Adoeci no ônibus da turnê e no meio da noite acorde e vi que meu beliche estava cheio de vômito. E o cheiro era tão repugnante que vomitei de novo. E o pior era que eu estava preso, porque o ônibus ia por uma estrada e eu não podia descer. Fiquei três dias sem poder comer nada, foi horrível. Mas bem, culpemos o álcool, não o salchichón.

Voltou a prová-lo?

Sim, claro. Mas demorei quatro anos.

Você pagou um adiantamento para um carro elétrico Tesla, cujo preço é astronômico.

Sim.

Por que?

Para dirigi-lo!

Sim, mas… Por que um Tesla e não um Bentley ou um Rolls?

Porque o Tesla pode ser plugado. Não precisa de gasolina, então você não tem que ir até o posto de gasolina… Bem, te direi a verdade. Na Inglaterra, houve uma escassez de gasolina algumas vezes, a última há quatro anos. Os caminhoneiros franceses entraram em greve e impediram que os caminhões chegassem à Inglaterra e durante seus dias a gasolina não chegou aqui, e os supermercados ficaram sem comida, e o pânico começou a se estender. A Inglaterra é muito instável, depende muito da importação, e se isso acontecer de novo e durar só mais um pouco… Artigos foram escritos e dizem que teríamos sete dias restantes. Depois não haveria nada. Seria o caos, haveria violência. Eu, pelo menos, teria meu carro, E, depois dos sete dias, não haveria nenhum carro na estrada e eu aproveitaria muito.

Mas você não teria aonde ir. A Inglaterra é uma ilha.

Sim, mas gosto muito de dirigir!

Em todo caso, uma das suas teorias da conspiração favoritas diz que o petróleo é infinito e que as empresas petroleiras enganam a humanidade porque, se soubessem, o preço cairia bruscamente.

O povo tende a não levar a sério estas teorias, mas, por exemplo, no caso do 11 de Setembro, se esquecem de que a verdadeira história, a oficial, é uma teoria conspiratória! Isso não foi demonstrado! Há teorias que são uma verdadeira loucura. Essa, que supõe que as empresas petroleiras guardam o segredo de que o petróleo não acaba, que é renovável, porque querem manter os preços altos… Bem, não sei se é verdade, mas me diverte acreditar que é. Ok, o mais provável é que seja uma fantasia.

Me diga como podem terminar o show do Madison Square Garden, em Nova Iorque, chegar ao camarim e falarem do Georgismo.

Ah, isso é muito interessante.

Você falava de uma “revolução radical nos direitos da propriedade”.

Isso vem de um economista americano chamado Henry George, do final do século XIX. Naquela ocasião, havia um debate sobre como as pessoas deveriam ser taxadas nos Estados Unidos, e George chegou com uma ideia revolucionária: só deveria haver um imposto e este seria sobre a propriedade da terra. A ideia é que a terra é propriedade da Natureza, não é algo fabricado pelo ser humano, portanto não temos o direito de sermos proprietários dela. O que George propunha é que se você quer ter um pedaço de terra, você deve pagar uma compensação ao resto da população. Quando uma empresa petroleira compra um terreno que tem petróleo – como, por exemplo, British Petroleum, que tem grandes porções da Nigéria –, o que se faz é privar o resto da população de ter acesso ao petróleo, que é uma fonte natural, assim deve pagar a essa população pela exclusividade do acesso. O mesmo se pode aplicar à maior parte do povo mais rico do mundo. Se trata de uma ideia revolucionária, mas acredito que é a solução para os problemas econômicos do mundo.

Soa convincente.

É que é muito óbvio.

Sim, mas impossível.

Pode ser que seja, mas é necessário, O sistema das grandes corporações se ampliou nos últimos 30 anos de maneira muito intensa, e o que acontece é que para as novas gerações, o povo jovem, é muito difícil conseguir ter alguma propriedade, porque tudo já tem dono! Todas as casas já tem dono, todos os terrenos já tem dono, todos os negócios, as idéias, tem dono, a Terra já tem dono! Assim que um rapaz pensa: “Que porra vou fazer? Não ficou nada pra mim!” O povo jovem tem que dar conta de que esse é o caminho e fazer uma revolução.

Se um dia o Muse deixar de existir, pela razão que for, você poderia se dedicar à política.

Não, sem chances.

Você se dedicaria a quê, então?

Seria agricultor. Agricultor de cânhamo. Mas não pra fazer a droga, agora existe uma versão legal que você pode usar pra fazer papel, tecidos, comida… Muitas coisas, é uma plantação muito versátil, e precisa de pouca água e pesticidas. Quero ter uma granja de cânhamo.

¹ curado: processo a qual alimentos embutidos são submetidos para conservação.

² salchichón: alimento embutido tipicamente espanhol

³ cânhamo: maconha.

Fonte: Board.muse

Confira os scans da matéria em nossa galeria.

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A equipe mais animada, doida, faladeira e confusa que um fã clube de Muse poderia ter. Nós amamos Muse de todo o coração assim como (a maioria) dos seus fãs. A dedicação é de coração.

Comments: 19

  • Talita

    1 de maio de 2010
    reply

    MATT SÓ NO SALCHICÓN HMMMMM

    q

  • AnaaBanana

    1 de maio de 2010
    reply

    SAPECA DISAUD8SA89DUA

    aliás, cânhamo = planta cuja fibra é usada pra fabricação de tecidos e papel

  • Willians

    1 de maio de 2010
    reply

    Matt agricultor?Aí,daria uma boa idéia para uma montagem no Photoshop.

  • Yasmim

    2 de maio de 2010
    reply

    Cara,uma das melhores entrevistas do Matt!Só me fez ter mais certeza de q tds os parafusos da cabeça dele estão soltos!haushaushauh
    Ele é paranóico total,e eu adoro isso!Crazy Matt

  • Cris_of_Cydonia

    2 de maio de 2010
    reply

    Uma das melhores entrevistas EVER! Cada vez mais tenho certeza de que ele é um gênio! Normal e ordinário são duas palavras que não combinam com Matt Bellamy! And that’s why I love him even more!

  • Cris_of_Cydonia

    2 de maio de 2010
    reply

    A propósito, qdo na entrevista ele diz “cáñamo”… ele quer dizer “maconha” (Cannabis). Acreditem ou não, existem outros usos para a planta, além de fazer o baseado. Link prá pagina da Wikipedia em espanhol: http://es.wikipedia.org/wiki/C%C3%A1%C3%B1amo

    • AnaaBanana

      2 de maio de 2010
      reply

      CARAAAAMBA VERDADE, como eu fui inocente!!!
      quando eu pesquisei sobre canhamo soh achei o uso industrial pq nao procurei pela palavra certa >_>

      quer dizer entao que eh a danada da marihuana? JAJAJAJAJJA

  • Nathalia

    2 de maio de 2010
    reply

    Nem imaginava que o lance das torres do palco tinha a ver com os ministérios do livro do Orwell.
    Crazy Matt [2].

    • Cris_of_Cydonia

      2 de maio de 2010
      reply

      É… e pros Musers que ainda não leram “1984”: “Shame on you” =B

      • Nathalia

        2 de maio de 2010
        reply

        Hehehe, mas não tem muito tempo que li o “1984”. Quer dizer, já tem uns meses, mas foi depois do lançamento do “The Resistance”. Gostei bastante! xD Também adorei “A Revolução dos Bichos”.

  • Nathalia

    2 de maio de 2010
    reply

    Ah, tem uma votação de melhor música da semana em um blog brasileiro e o Muse tá concorrendo com 2 músicas, “Resistance” e “Undisclosed Desires”. Quem quiser votar: http://weekale.blogspot.com/

  • Talita

    2 de maio de 2010
    reply

    matt muito loki de dorgas

  • Lilaz

    3 de maio de 2010
    reply

    Matt é muito louco. Como assim ele comprou um carro elétrico já pensando num desabastecimento de gasolina.
    A casa dele deve ter um porão com estoque de alimentos, guitarras e cilindros d oxigênio.
    Pior!Quanto mais paranóico mais gosto dele.*.*

    • john

      3 de maio de 2010
      reply

      Certeza que tem muita salsicha enlatada no porão xD

      • AnaaBanana

        4 de maio de 2010
        reply

        HMMMMMMMMMMMM DANADO I9SDSAD9SA´DSA9DISAD9IAS

  • Renato

    5 de maio de 2010
    reply

    Dia 16/06 Vicente calderon madrid… estarei na primeira fila cheio de cerveja e cantando mais alto que o matt vou morrer facil

    • john

      5 de maio de 2010
      reply

      Hey..não esquece de mandar uns videos e fotos!! *-*

  • Nicole

    6 de maio de 2010
    reply

    Matt viaja pouco, né? Imaginem ele daqui uns 30 anos, internado num hospício e compondo! Tudo por conta das teorias conspiratórias! HAHAHA
    Essa do Cameron/Obama e a da seleção inglesa são ótimas! Deve ser muito bom para um jornalista entrevistar alguém que fale coisas que prestem e saiba do que está falando!

    • john

      6 de maio de 2010
      reply

      Estou rindo até agora do “mas gosto muito de dirigir!” XD

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