Tudo sobre a banda britânica Muse formada por Matt Bellamy, Dom Howard e Chris Wolstenholme.

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[Entrevista] Matt Bellamy está fora de controle

Entrevista concedida a Michael Odell e publicada em 21/08/2009.

 

Matt Bellamy encontra a Q com um lanche de hotel nas mãos e assassinato no olhar. O frontman da banda Muse está reencenando a morte de uma galinha com a ajuda de uma baguete.

O que você tem a fazer é levantar o bico e estalar o pescoço para trás, ele diz, quebrando a baguete que você presumiria ser o pescoço da galinha. Mas o mais importante é senti-lo. Você está matando um animal. Para comê-lo.

Bellamy fez isso pela primeira vez em sua casa em Devon no final do ano passado (2008). Ele ‘resgatou’ várias aves de uma fazenda local que não as queria mais e ‘deu a elas uma vida boa’. Então, no dia do Natal, ele matou duas delas e as cozinhou no almoço para sua mãe, namorada e outros membros da família.

Há culpa, ele diz em um tom pensativo de um-homem-tem-que-matar-para-sobreviver . Mas eu não acredito que você tenha que deixar a responsabilidade para as cadeias de supermercados. Matar seus próprios animais te conecta com a vida real e todos deveriam tentar fazer isso. Isso pode vir a ser importante.

Sentado em um sofá com sua ‘galinha quebrada’, Bellamy parece uma mistura de um chef de cozinha acabado com um varredor pós-apocalíptico. Tanto quanto sua granja, sua casa em Devon também é ‘de 30 a 40% auto-suficiente em vegetais’, o cantor as cultiva em um terreno ao lado de sua casa. Isso é tudo parte do que ele chama de ‘preparação’. E, dado esse tempo estranho de crises econômicas, ameaças terroristas e ruína financeira, quem pode culpá-lo? Recentemente, a histeria geo-política de Bellamy tem sido tão avassaladora que ele decidiu tomar uma atitude extrema. Calculando que comida enlatada duraria mais de dois anos, ele foi ao supermercado e comprou todo o estoque de feijão cozido enlatado: 50 latas, ao todo. Então ele foi a uma loja de ferramentas e comprou um machado.

Eu li em algum lugar que um bloqueio de sete dias no Reino Unido nos deixaria sem combustível, ele diz atentamente. Outros sete dias e ficaríamos sem comida. Foi por isso que eu comprei os feijões. O machado é para cortar a lenha.

A (ex)namorada de Bellamy, Gaia Polloni, é psicóloga. Quando ela descobriu o que ele estava fazendo ela tentou fazer com que ele visse as coisas de uma perspectiva mais racional. O ponto da virada veio quando ele disse que queria comprar uma crossbow.

Ela é italiana, ele explica. Eles já viram de tudo por lá, não viram? O Império Romano veio e foi. Ela é mais relaxada com essa coisas de história e política. Mas,  para mim, parece sutil. Especialmente no Reino Unido. Nós somos uma ilha e estamos vulneráveis.

Felizmente, as habilidades de sobrevivência de Bellamy não são necessárias hoje. Nós estamos sentados no opulento bar da cobertura do Madrid’s De Las Letras Hotel.  Uma suave brisa sopra. O sol queima a 34 graus. Na mesa à nossa frente um almoço com presuntos finos, suculentas tortillas e massas requintadas, e não tivemos que matar ou cultivar nada disso. No entanto, as feições de menino de Bellamy parecem circunspectas e pálidas. Ele desliza de lado no sofa para se apoiar, ele veste uma camiseta onde se lê ‘Death for Fun’ (Morte por diversão).  Essa apatia não é pelo eminente apocalipse. Ele chegou cedo vindo de Olso e saiu para beber. Ele não bebe regularmente, e depois de sete vodkas com tônica ele se viu na pista de dança se mexendo ao som de The Jacksons. Essa manhã ele acordou e vomitou, antes de finalmente despertar para a nossa entrevista.

É o novo álbum, ele diz. Eu tenho andado por toda a Europa falando sobre isso. Eu suponho que seja um assunto muito denso e pesado. Eu precisava relaxar. Vodka e The Jacksons foram minha libertação, mas estou pagando o preço agora.

Poucas bandas aceitaram o trabalho de dar ao fim do mundo uma trilha sonora com tanto prazer quanto Muse. Durante anos eles foram uma banda cult de rock cuja habilidade com hits de rádio ajudou a manter os exageros progressivos e os embelezamentos operaticos sob controle.

Tudo isso mudou com seu quarto álbum, o portentoso prog-disco-metal barroco ‘Black Holes and Revelations’. Nesse álbum eles vão de encontro a tudo que é épico, teatral e, ocasionalmente simples no rock, e adicionam vários entalhes a mais. Os shows ao vivo não eram mais contidos, pelo menos não os dois shows no Wembley Stadium em 2007: um total assalto sensorial estrelando equipamentos de iluminação estilo NASA, enormes telões e bailarinas penduradas a balões gigantes. É típico de Bellamy que ele fale que os shows ficaram ‘um pouco comprometido’, adicionando que ele queria helicópteros sobrevoando a platéia com acrobatas descendo por cordas até que o Corpo de Bombeiros pusesse um fim nisso.

Notavelmente, The Resistance supera até mesmo aquilo em pura grandiosidade. Futurista, lírico e possivelmente beirando a loucura; soa como o som de uma banda caminhando alegremente na linha que separa as convenções da insanidade. Há orquestra, combate aéreo, unhas de lhamas (simulando o som de cascos de camelos), e, na forma de última faixa, Exogenesis, uma sinfonia de 15 minutos dividida em três partes.

Eu queria que The Resistance fosse o ponto culminante de tudo o que sabemos sobre música, diz Bellamy. Todos os estilos que já tocamos. Todas as idéias que já tivemos.

Dada sua tendência a fazer declarações monumentais, não é surpresa uma narrativa frouxa e conceitual através dos tópicos do ‘The Resistance’. Definir romances micro cósmicos contra temas maiores como tumulto politico-social iminentes, é necessário, uma agitação civil em grande escala (‘Uprising’ como faixa de abertura), a ascensão de uma superpotência geoestratégica imaginária (United States Of Eurasia), e o eventual abandono do planeta (a já mencionada ‘Exogenesis’). É George Orwell mencionado por Queen, ou o American Idiot do Green Day, se os protagonistas tivessem acabado em Marte.

O surpreendente tema lírico é todo trabalho de Matt Bellamy. Um confesso devoto de várias teorias da conspiração, ele aparentemente fez um download de sua lista de leitura atual direto para as mesas de mixagem. Seus livros preferidos no momento incluem ‘The 12th Planet’ de Zechria Sitchin, onde se examina a hipótese de que a vida humana foi geneticamente criada por extraterrestres milhares de anos atrás, ‘The Grand Chessboard’ do ex Assessor de Segurança Nacional dos EUA Zbigniew Brzezinski, que reivindica os planos da América de anexar a riqueza mineral da Eurasia e dominar o território nos próximos 100 anos e ‘Confessions Of An Economic Hit Man’ onde John Perkins acusa os EUA de tentativa de defraudar estados de suas riquezas minerais desestabilizando os governos.

Com o sol alto no céu, Bellamy põe uns óculos de sol Prada que o fazem parecer meio astro do rock e meio mosca gigante. Com sua metralhadora verbal e sua risada estridente, ele vem como um professor maluco que já testou em si muitas de suas poções. Q diz a ele que ‘The Resistance’ soa como a última transmissão de um planeta desesperado.

Não, ele diz cuidadosamente, embora ele esteja apenas tentando não perturbar a própria ressaca. Desafiador. Um planeta desafiador. Nós podemos revidar. E nós o faremos. Mas ‘The Resistance’é para ser menos sobre conspiração e o fantástico do que sobre o racional e o real. É esperançoso e positivo. Eu já passei por períodos onde eu me sentia muito paranóico a respeito do mundo. Mas eu também acredito que o poder das pessoas e do amor possa mudar as coisas. Há um certo romance em lutar contra interesses malévolos. O último álbum foi sombrio e raivoso. Esse é sobre resistir ao governo das corporações.



Muse tem lutado contra um tipo de reação de retaguarda desde que se conheceram quando ainda eram adolescentes no deserto do rock de Teignmouth, Devon, no início dos anos 90. Então, Bellamy, o baterista Dom Howard, e o baixista Chris Wolstenholme eram estudantes na Teignmouth Community and Coombeshead Colleges, e membros de bandas diferentes. A única coisa que eles tinham em comum era que nenhum deles queria soar como Nirvana.

Estar em uma banda de rock era um ato de rebeldia na época, relembra Howard. Todos iam na onda do dance e do rap. Mas dentro da panelinha do rock havia uma grande resistência para tentar novas idéias.

Bellamy e Howard são meninos indie; com características finas e delicadas, eles se parecem muito. Wolstenholme é mais alto e másculo. De longe eles parecem dois agentes imobiliários e o homem que vai ajudar na mudança.

Quando a Q se encontrou com Wolstenholme para um café mais cedo naquela manhã, ficou claro que ele não está empolgado com preocupações apocalípticas. Ele tem os nomes dos filhos tatuados em seus braços e nas costas. Ele gosta de ir ver seu amado Rotherham United jogar (ele nasceu lá). Você pode se imaginar saindo para tomar uma cerveja com ele e em nenhum momento da noite ele iria tentar convencê-lo de que aqueles porcos da CIA tentaram grampeá-lo. Ele foi inicialmente o baterista de uma banda em Teignmouth chamada Fixed Penalty. E ele foi expulso da banda por gostar de Status Quo.

Nós éramos uma porcaria, ele diz, dando de ombros. Todos queriam ser Nirvana. Não havia nada de novo acontecendo.

A família de Dom Howard se mudou para Devon vinda de Stockport depois que seu pai abriu um negócio fabricando roupões para bispos na cidade. Antecipando-se a Muse, ele formou uma banda chamada Gotic Plague. Ao mesmo tempo Bellamy, cuja família havia se mudado de Cambridge, estava servindo a sua aprendizagem da guitarra em uma banda chamada Carnage Mayhem.

Minha banda era mais legal que a do Matt, então ele abandonou a dele para se juntar à minha, diz Howard.

Bellamy agitou o barco da Gothic Plague sugerindo que escrevessem suas próprias músicas. Então os outros membros da banda se mandaram. Bellamy, inicialmente apenas guitarrista, se tornou cantor e compositor também.

Eu realmente não queria, ele diz. Nós não conseguíamos encontrar mais ninguém para a nossa banda. Aquela sensação de ser um frontman relutante ficou comigo.

Wolstenholme se juntou a eles logo a seguir, e assim que o trio se solidificou eles perceberam um fator em comum: os três eram intrusos na cidade.

Eu não diria que foi uma atitude ‘caipira’, mas as pessoas diziam que sim. Nós não éramos de lá, você sabe? diz Bellamy. Não pode ser uma total coincidência que tenhamos formado uma banda de desajustados.

Não foi tudo de vento em popa. Wolstenholme se lembra de um dos primeiros shows na Cavern Club em Exeter onde Bellamy mal conseguia fazer contato visual com a platéia e apenas murmurava as palavras da música. Depois disso o técnico de som disse a Howard e Wolstenholme que eles deveriam arrumar outro vocalista. As críticas tiveram um efeito extraordinário.

No próximo show Matt abriu a boca nós quase não acreditamos no que ouvíamos, Wolstenholme relembra. Ele tinha essa voz clara e ponderosa. Era como se ele tivesse ido prá casa e pensado, Muito bem, seus babacas, vou mostrar a vocês.

De muitas maneiras, Bellamy é um astro do rock bem improvável. Enquanto ele é formal e auto-depreciativo, há uma tendência de inteligência neurótica, uma sensação de que ele está sempre tentando fazer as coisas funcionarem.

Minha mãe diz que eu sempre precisava de muitas explicações para tudo, ele diz. Quando eu tinha quatro ou cinco anos e estava aprendendo a escrever, ela diz que eu costumava jogar o lápis no chão e gritar ‘Mas porque????’ Eu queria decifrar cada motivo e os beneficiários por trás das coisas. Como no catolicismo. É sobre Deus? Não. Me parece mais ser sobre poder, dinheiro e abuso infantil.

Quando seu talento musical burguês o fez primeiro candidato ao papel de frontman, ele achou que não haveria nada de si mesmo para colocar em suas músicas, atestando que ‘ninguém pensaria que eu era interessante’. Então ele recorreu aos livros e teorias como material.

Eu geralmente dou uma olhada nos livros de teorias que o Matt lê, diz Howard. Eu acho que todos sabemos que o mundo funciona de maneira esquisita. Não é apenas paranóia. E eu acho que Matt escreve de maneira pessoal. Não é um dogma. Ele imagina pessoas reais em ambientes surreais muito bem.

Wolstenholme, por outro lado, diz que ele não fazia a menor idéia do que se tratava  ‘United States Of Eurasia’ até quase o momento em que ele entrou no estúdio para gravar o backing vocal.

Isso é serviço do Matt, ele diz rispidamente. Contanto que não esteja ofendendo ninguém.

Mas de vez em quando ele ainda é surpreendido. Há uma faixa no novo álbum chamada ‘Unnatural Selection’ que Wolstenholme acha que pode estar ligada à idéia de que a Família Real é na verdade descendente de lagartos gigantes, uma teoria proposta pelo ex-comentarista de futebol que-virou-conspiracionista-poster-boy Davis Icke, entre outros.

Há, diz Bellamy, vários fatores que moldaram sua visão do mundo. Uma delas é o próprio West Country. O cantor sugere que Devon e Cornwall dobraram seus bunkers nucleares ao longo dos anos.

Durante a Guerra Fria as pessoas se mudaram para lá com medo de que cidades maiores fossem alvos de ataques nucleares, ele diz. Há uma forte sensação naquelas pessoas de que eles querem se afastar da vida no mainstream. Nós fomos cortados. Nós estamos sozinhos. Talvez seja por causa do que fazemos.

E então havia os cogumelos mágicos. O cantor recua à idéia de drogas pesadas hoje, mas alucinógenos tiveram uma grande participação na formação da visão do mundo do jovem Matt Bellamy.

Eu usei cogumelos umas quatro ou cinco vezes quando eu tinha 14 ou 15 anos, ele diz. Você consegue encontrar uns bons em Dartmoor. Olhar as árvores e a natureza sob a influência dos cogumelos é incrível. Total conscientização. Então você pensa, se todo o mundo pode parecer diferente, então toda percepção é construída. Eu estava a poucos passos de me tornar John Lennon, me sentar nú na cama e falar sobre paz.

No início desse ano, Wolstenholme esteve de volta a Teignmouth limpando uma velha garagem que ele usa para guardar coisas. Nela ele achou uma caixa contendo fitas de vídeo. Uma delas mostrava um dos primeiros shows de Muse na Cavern Club em Exeter. Ele a assistiu e já estava prestes a jogá-la fora quando o vídeo se transformou em uma gravação de Wolstenholme e Bellamy sentados à mesa da cozinha, aos 14 anos, discutindo o sentido da vida.

Nós nos sentamos lá e gravamos a noite toda, diz o baixista. Eu acho que Matt quase chegou lá, ao sentido derradeiro, mas então a fita acabou. Irritante!

Onze da manhã de um dia da semana e metade de Milão parece estar se sentando nas cadeiras dos cafés nas calçadas. Dentro do prédio sombrio que abriga o estúdio Officina Mecanique, a atmosfera é menos relaxada. Matt Bellamy e Dom Howard estão aqui para rever umas das versões finais de gravações para o The Resistance. Vinte e três dos melhores músicos clássicos de Milão se juntaram a eles, que estão vasculhando folhas de papel com o tipo de notação impenetrável que apenas músicos clássicos podem compreender.

Enquanto isso técnicos lutam para reiniciar o computador/gravador de 100 canais, que acabou de travar, parcialmente porque Bellamy e Cia estavam tentando alimentá-lo com solos de guitarra e bateria, e harmonias de solo de piano estilo Queen.

Enquanto esperamos, uma jovem violonista se aproxima e pede um autógrafo a Bellamy. Talvez mais acostumada com o ambiente sóbrio dos concertos clássicos, ela parece genuinamente animada com a idéia de gravar com uma banda de rock. Q pergunta a ela se ela é fan de Muse. Ela diz que sim.

E, ela adiciona, várias das músicas que tocamos, o compositor, você sabe… como se diz? Já está morto.

Compositores mortos são assunto que muito agradam Matt Bellamy. Além de morar em Devon, ele também mora em um vila em Lake Como, ao norte de Milão, onde também já morou o compositor do século 19, Vicenzo Bellini. O compositor tem absorvido as influências; uma pitada da ária de Bellini ‘Casta Diva’ é discernível em um trecho de ‘United States Of Eurasia’. Mas o relacionamento com fantasmas do clássico vai mais fundo. Quando ele se senta ao piano tarde da noite, tocando Chopin, ele diz que se sente como se o grande pianista clássico estivesse realmente com ele.

Minha namorada diz que isso é uma experiência levemente esquizóide, ele diz. Racionalmente, eu sei que ele não está lá, mas pode ser muito assustador saber que você está tocando algo que foi escrito séculos atrás.



Essa experiência clássica sobrenatural teve sua influência em ‘The Resistance’.  Hoje, a orquestra irá adicionar o tempero árabe à ‘United States Of Eurasia’, uma música concebida em escala épica, até para os padrões de Muse. Um grito de Guerra para que o território Eurasiano, que se estica desde Portugal no oeste até o Japão no leste, se una, se desenvolve em um falso hino nacional antes de culminar em uma sonata sombria baseada em Chopin chamada Collateral Damage. Apenas Muse poderia compor uma trilha sobre a ascenção e queda de um império fictício em 4 minutos. Enquanto a música rola, os alto-falantes gritam ‘Eurasssssia!’

Não são todos que conseguem perceber os aspectos Monty Python em nossa música, mas está lá, diz Howard. Há idéias realmente sérias, mas muito dos acompanhamentos musicais e dos floreios são feitos com espírito de diversão. Frequentemente nós estamos rindo enquanto gravamos.

Bellamy escreveu a música, embora hoje seja o maestro Audrey Riley quem está andando da sala de som para a mesa de gravação, certificando-se de que as notas estejam sendo interpretadas da maneira correta. Os músicos mal tiveram 5 minutos para dar uma olhada na partitura antes de gravarem. Bellamy rodeia a mesa de mixagem empolgado, vestindo uma calça xadrez e um cabelo multi-direcional. Riley diz que a misteriosa seção de cordas tem uma ‘qualidade Mahler’. Se Bellamy está lisonjeado com a comparação com o compositor de sinfonias do século 19, ele não demonstra, preferindo dar uma mordida em seu sanduíche de queijo enquanto faz anotações em sua partitura. ‘The Resistance’ apresenta muitos desses floreios clássicos, não menos em ‘Exogenesis’, onde  a população da Terra está a deixar o planeta enquanto Bellamy queixosamente roga: ‘Você deve salvar a todos!’

Estou imaginando o momento quando as pessoas, ou apenas restos do DNA humano for enviado para Marte ou qualquer outro lugar para começar de novo, ele explica. Mas a teoria da exogenese na verdade explora a idéia de que nós evoluímos em outro planeta e viemos prá cá mais tarde.

Há histórias familiares mal-resolvidas aqui. O pai de Bellamy, George, foi guitarrista da banda The Tornadoes nos anos 60, que gozou de grande sucesso internacional com Telstar, música que recebeu o nome do inovador satélite de comunicações lançado em Julho de 1962. Produzido pelo torturado visionário Joe Meek, foi a primeira música de um grupo Inglês a ficar em 1º lugar nos EUA. Mas o momento de glória do The Tornadoes teve curta duração e George Bellamy deixou a música para mais tarde se tornar encanador.

Isso é algo sobre que pensava muito, diz Bellamy, Jr. hoje em dia. É estranho. Antes dos meus pais se separarem, a coleção de discos do meu pai era minha maior fonte de inspiração. Eles escreveram sobre um satélite, o que era algo significativo naquela época. 50 estranhos anos depois e nós estamos discutindo colonização extraterrestre, e isso nem parece um futuro assim tão distante. O fato da NASA estar falando sobre homens aterrissando em Marte faz com que os shows de ficção científica dos anos 60 estejam quase se tornando realidade científica.

A tarde avança e, à medida que a orquestra toca, o ouvido atento de Bellamy parece registrar pequenas falhas, em freqüência canina, que reles mortais não são capazes de escutar. Essa noite eles farão a viagem de 90 minutos até o estúdio em Lake Como, estúdio que Bellamy batizou de ‘Studio Bellini’. O engenheiro de som Mark ‘Spike’ Stent irá encontrá-los para as sessões de mixagem de hoje.

É uma bela parte do planeta, diz Bellamy melancolicamente. Liszt e Chopin compuseram lá. E dizem que Winston Churchill tirou umas ferias de duas semanas durante a Segunda Guerra Mundial para pintar lá.

Um lago legal, umas casas legais, adiciona Howard com uma risadinha. Então, sim, é um ótimo lugar para se imaginar um cataclismo no estilo 1984.

Matt Bellamy se estabeleceu como um chefe-agitador roqueiro contra um sinistro e onipresente ‘Eles’. Mas, raro para bandas grandes como Muse, eles nunca apoiaram uma causa política abertamente. A favor do que exatamente ele lutam? De volta à cobertura em Madri, Q oferece a Bellamy algumas associações aleatórias. U2: esqueçam as dívidas do mundo. Coldplay: comércio justo no mercado de bananas. Radiohead: reciclagem. Mas… e Muse? A resposta é surpreendentemente prosaica.

Eu evito apoiar causas como Bono ou Chris Martin, ele diz. Eles fazem um ótimo trabalho, mas eu não sou bom com atenções. Eu acho que pareceria um tolo como um porta-voz. Mas eu ficaria feliz se um faixa como Uprising fosse associada a uma campanha pela reforma da Câmara dos Lordes. É inacreditável que não haja uma eleição na era da internet. Então, sim… reforma constitucional.

Enquanto eu observo dois sóis começarem a baixar no reflexo de seus óculos, Bellamy começa a se parecer com uma forma de vida intergaláctica. Mas fica claro que questões puramente políticas não é bem a praia dele. É mais o senso de crises humanas que o perturbam e o inspiram.

Eu acho que nós somos uma geração que não foi realmente testada, como as gerações da época da guerra foram, ele diz. Ás vezes eu acho que está sendo tudo muito fácil. Minha avó tem 97 anos e ela costumava estocar comida. Há coisas que ela conheceu e nós não. Resistência foi um conceito que foi muito real na geração dela e deveria ser na nossa também.

Matt Bellamy pode estar inseguro em relação ao futuro da humanidade, mas ele tem planos para a trajetória de Muse. Há, ele diz, outro concerto épico sendo planejado.  Cenógrafos do mundo da ópera estão trabalhando duro para criar o que ele chama de “Mundo multi-plataforma totalitária”. Tudo isso cheira a destruição iminente, mas Bellamy assumir a conflagração mundial será muito mais divertido.

Não se trata de uma batalha cruel pela sobrevivência, ele assinala. É sobre uma Resistência que você se sentiria orgulhoso em fazer parte.

A entrevista está feita. Ele está pronto para se encontrar com membros da equipe de gestão da banda para falar sobre o recrutamento de ‘agentes secretos’ para uma caça ao tesouro global que envolve uma série de USB’s escondidos contendo pistas parciais que permitirão que United States of Eurasia seja baixada de graça. Ainda mais tarde ele se encontrará com os outros membros da banda para um jantar. Mas foi um longo dia.

Muito provavelmente, para esse jantar, ele não terá matado a própria comida.

Comments: 17

  • Harry_32

    12 de junho de 2010
    reply

    Adorei a reportagem, embora esteja parecendo mais um livro de ficção cientifica que uma reportagem.
    Mas o Muse parece mais ficção cientifca mesmo hahahahhahaha.
    o/

    • steffan

      12 de junho de 2010
      reply

      que matéria gigante! só perde para o especial de 100 páginas da nme xD

  • Talita

    12 de junho de 2010
    reply

    parabéns pra Cris 🙂

    • Cris_of_Cydonia

      12 de junho de 2010
      reply

      o/
      É muito amor, Talita! MUITO AMOR *___________*

  • Izaa.

    13 de junho de 2010
    reply

    Matt é doido mas eu amoo!
    Reportagem muito booa essa 😀

    • nathalie

      21 de dezembro de 2010
      reply

      é mesmo….nao importa o q ele seje…eu sempre irei amar ele !!

  • Angie

    15 de junho de 2010
    reply

    Qdo eu vi o (ex) adicionado ao lado de namorada, eu sabia que ñ era da entrevista pq a entrevista pelo q li veio antes do término…. então pensei, ok, acho q foi a Cris que postou isso aqui. Tinha que ser ela! Corri pra olhar e realmente foi! hahaha
    Dito isso, vou lá terminar de ler rsrsrs

  • dannyy

    19 de junho de 2010
    reply

    Ehh… faz um tempinho que o Matt está descontrolado. Tipo…uns 10 anos. Ou mais.

    • Izaa.

      20 de junho de 2010
      reply

      Sempre foi doidim! auhshaus

  • Maria Luiza

    26 de julho de 2010
    reply

    essa doidura dela, que me faz a cada dia amar ele mais ♥

  • Mariana

    28 de setembro de 2010
    reply

    A cada entrevista que leio com matt tento descobrir o que ele é de verdade mas a cada vez fico mais confusa, o que ele é um pensador,um louco,um ser de outro planeta, um espirito evoluido????

    • Cris_of_Cydonia

      29 de setembro de 2010
      reply

      Um ser evoluído, só pode ser ¬¬

  • indyyyy

    12 de outubro de 2010
    reply

    realmente ninguém sabe o q ele eh… Mas tem uma cara de santo…

  • MieBellamy

    19 de novembro de 2010
    reply

    Te amo MUSE!!

  • paolaBellamyHowardWolstenholme

    30 de dezembro de 2010
    reply

    gente por favor>> pra quem tem orkut

    http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=109897449&refresh=1

    valeu

  • Lari Bells

    30 de março de 2011
    reply

    Nossa que entrevista tensa!! Gostei muito, pensamentos e opinioes interessantes! (:

  • Bismark

    29 de abril de 2011
    reply

    A cada vez mais que tento entender o Matt, mas fico curioso em saber o que realmente se passa dentro da cabeça dele. Ele é ligadão em conspirações e tenta mostrar isso para as pessoas de uma forma não explícita porque acho que ele acha (sensacional esse minha colocação kkkk) que isso seria chocante para as pessoas. Ele tenta explicar, mas toda hora que vai explicar ele coloca um freio porque acha que vai causar um choque. Bom é o que eu acho e não sei se estou mais doido que ele. rs
    Mas enfim, Obrigado à ele por ter feito uma das melhores bandas que eu já vi tocar!

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