Especial NME: A primeira entrevista

Entrevista publicada em fevereiro de 1999 pela revista NME e republicada em maio de 2010 na edição de colecionador. Texto de Mark Beaumont.

No início

Devagar, o Muse vai rastejando furtivamente em direção ao conhecimento público, de comparação a comparação com o Radiohead…

Se fosse a trama de um filme novo do Robin Williams você estaria vomitando nos seus nachos. Existem esses três garotos de Devon, doces ao estilo Disney, com olhos de corça, e a sua banda de escola. Por cinco anos eles trabalham duro, raspando pinturas e decorando durante o dia, regurgitando covers velhos nos fundos de frios bares locais à noite, até que um dia, a fada madrinha dos festivais aparece na forma de In the City ’98, arranca-os da obscuridade e os anuncia como seus gloriosos campeões.

E vocês vão amar a virada. Vejam, eles conseguiram, então, um contrato com a gravadora da Madonna como presente de Natal. “Estávamos as Los Angeles fazendo um showcase para outra gravadora”, Matt Bellamy recorda, “e a Maverick ficou sabendo que estávamos por perto e pediu para que ficássemos mais uns dias para tocar para eles. Assinamos o contrato um dia depois da véspera de Natal. Conseguimos um contrato de Natal.” Vocês não se sentem enjoados só de saberem que são colegas de gravadora da Alanis Morissette? Matthew abre um sorriso. “Na verdade, não. Eles tem o Deftones e eu amo Deftones. O que é ótimo na Maverick é que eles têm apenas uns quinze artistas e nos tomaram como prioridade. Eles não são o tipo de gravadora que largaria uma banda se o seu primeiro álbum não vendesse muito bem. Mas não somos uma corporação de jeito nenhum. Ainda somos independentes neste país.”

Rapazes diferentes, esse Muse. Eles escrevem canções de grande profundidade e importância, e ainda assim recusam-se a dar a menor dica sequer sobre o significado delas porque, de acordo com Matthew, “eu deixo todos olharem para elas como quiserem”. Eles tocam épicos serrilhados de guitarra, e em cima do palco eles se comportam como mosquitos dementes sob o efeito de drogas de primeira. Eles assinaram com a megagravadora da Madonna na América e ainda são capazes de assinar com a Absorvente Interno Partido Records no mundo todo. E eles são uma banda supostamente “comercial” que se recusou a tocar no showcase dos vencedores do In The City porque era, hum, comercial demais.

“Não queríamos abusar”, diz Matthew, “e o negócio ao vivo era meio que uma bagunça.” Mas nem tanto o seu single de estréia Muscle Museum: o uivo primitivo de uma garganta alinhada com lâminas e uma alma submersa de tanto brincar em todos os banheiros de casas de show no distrito de Honiton, um barulho poderoso que poderia ter sido clonado a partir do DNA retirado da laringe de Thom Yorke. Ah, exceto pelo fato de que o Muse considera tais comparações sórdidas como “jornalismo preguiçoso”.

“É muito fácil dizer ‘vocês parecem isso, vocês parecem com aquilo'”, diz Chris. “As pessoas não escutam o suficiente para se decidirem por conta própria.” Mas vocês realmente se parecem com o Radiohead. “Não queremos ser classificados tão facilmente.” Ah, por favor. Se houvesse um Campeonato Nacional Parecendo Com O Radiohead, vocês estariam na banca julgadora de experts junto com o Radiohead e outra banda que soa exatamente como eles.

“Temos influência de várias bandas americanas, como o Nirvana”, Matt afirma. “E sim, na época do The Bends, o Radiohead estava fazendo coisas novas com a guitarra pelas quais é difícil não se deixar influenciar. Se essa é a sua opinião, é justo, então. Eu simplesmente não me importo.”

Muse, então. Soa como Radiohead. Só que melhor.