Tudo sobre a banda britânica Muse formada por Matt Bellamy, Dom Howard e Chris Wolstenholme.

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Especial NME: Meninos do Showbiz

Matéria publicada em outubro de 1999 na revista NME e republicada em maio de 2010 como edição de colecionador. Texto de Stephen Dalton.

Para a primeira matéria do Muse na NME, voamos até Nova Iorque para nos juntarmos a eles e vê-los dando suas primeiras impressões na terra do Tio Sam.

Isso parece meio bobo. Três garotos de 21 anos saídos das adormecidas orlas de Devon, aproveitando a vida boa num deslumbrante lounge do Manhatan Hotel, mastigando alegremente seus cigarros como se tivessem transado loucamente com toda a Nova Iorque e comido a indústria musical de sobremesa. A qualquer momento esses indies desgrenhados e intrusos estão para ser empurrados para a calçada com todos os outros perdedores, carregadores de violão, de volta para mundo dentro de vans. Até mais. Continuem sonhando, babacas.

Mas isso não acontece. Porque mesmo se eles ficarem apenas acima do nível medíocre em casa, o Muse é a realeza do rock em treinamento na América agora. A própria Madonna bateu uma meia dúzia de concorrentes para dar um contrato a esses jovens em sua gravadora Maverick nesse último novembro. É por isso que o trio de Teignmouth está alojado em Nova Iorque por três semanas de promoção exaustiva para um álbum que ainda nem foi lançado.

Quando as gravadoras britânicas descobriram o Muse, elas os declararam como “o novo Radiohead” e os puseram de lado. Quando as gravadoras americanas os viram na CMJ em Nova Iorque, elas os declararam como “O NOVO RADIOHEAD!!!” e formaram um fila para assinar com eles na mesma hora. Diferenças culturais ou esnobismo britânico? Provavelmente um pouco dos dois, já que o Muse é mais que o novo Radiohead – eles são o novo Pixies, Nirvana, Mansun, Queen e Guns N’ Roses também. E em seu próprio jeito sério e intenso, eles estão prestes a estourar.

Matthew Bellamy (vocalista/guitarrista), Chris Wolstenholme (baixo) e Dominic Howard (bateria) foram jogados num obscuro local de estagnação e decadência, de desespero e degradação. Chamado Teignmouth. Bem abaixo de Torquay, na Riviera Inglesa. Teignmouth é um reino de coração negro e de eterno tormento do qual poucas almas saem ilesas. Debaixo de sua sonolenta superfície de distintos lares para idosos e extensões de mini-golfe, algo profundamente perverso apodrece sob o sol impiedoso do sul de Devon. Possivelmente.

“É um pouco parecido com Torquay, mas sem as boates”, Dom estremece. Parece bem sinistro. Como uma daquelas elegantes e velhas cidades inglesas de tijolos vermelhos, onde é 1952 para sempre, a não ser pelo sério problema com o crack… “Acho que o melhor jeito de descrever Teignmouth seria se te mandássemos a matéria impressa na primeira página do jornal local”, Matt zomba. “Tem uma foto do prefeito de Teignmouth jogando nosso álbum no lixo porque, aparentemente, dissemos numa entrevista que Teighmouth é um lugar chato, cheio de usuários de drogas. Ele disse ‘não sei quem são esses usuários de drogas, ninguém usa drogas aqui’… Isso te dá uma idéia de como é lá.”

Naturalmente, crescendo numa ressaca sufocante conduzida por estraga prazeres saídos diretamente de Footloose, o rapazes do Muse estavam, às vezes, entediados e à beira do suicídio. Eles até recorreram a  “negócios suspeitos” em ocasiões. “Houve muitas noites em que não havia nada para fazer e a única coisa divertida era a música”, Matthew relembra. “Você acaba fazendo coisas arriscadas como invadir piscinas, só porque era aquilo que se tinha para fazer. A maioria dos amigos que tínhamos foi para a universidade ou se tornaram traficantes.”

Ah, o prefeito vai adorar isso. Imagine uma fogueira de NMEs do lado de fora da prefeitura. Mas pelo menos o emergente Muse tinha contra que o se revoltar. E eles se revoltaram, começando pelo seu show de estréia nos últimos anos de escola, cinco anos atrás.

“O primeiro show no qual tocamos juntos foi no concurso Batalha das Bandas”, diz Matthew. “Usamos toneladas de maquiagem, tocamos toneladas de punk tosco e fizemos o público invadir o palco e destruir todo o nosso equipamento. E ganhamos! Isso que é estranho. Porque ganhamos de todas aquelas bandas que eram tecnicamente competentes, bandas que pareciam com o Jamiroquai. As pessoas estavam gritando ‘SEUS C*ZÕES!!’ Isso afetou totalmente a nossa visão do que é a música – não é só a música, é acreditar no que você está fazendo.”

Então o Muse continuou trabalhando, ignorando seus críticos, destruindo seu equipamento, sonhando com o sucesso. Eles finalmente assinaram com a empresa de assessoria West Country e ganharam um contrato no Reino Unido com a Mushroom, casa do Garbage. E agora, cinco anos depois, Madonna possui a alma deles. Doce vingança contra a velha e esnobe Grã-Bretanha e a pequena e paranóica Teignmouth, certo?

“Foi isso o que nos impulsionou, mas não acho seja o que estamos fazendo agora”, diz Matthew. “As coisas que escrevemos agora são mais como uma percepção de como o mundo é. É fácil por a culpa numa cidade pequena, mas então você sai por aí e percebe que algumas das atitudes que você pensava ser apenas da sua cidade pequena estão por todo o lugar, na verdade.”

O álbum de estréia do Muse se chama Showbiz. Ah, sim. A maioria dos primeiros álbuns tem dois ou três grandes picos preenchidos com encheção de linguiça juvenil. Showbiz tem doze faixas, sendo que TODAS são super-hinos wagnerianos de partir o coração com intensos ritmos hispânicos, metarrefrões sísmicos e letras de vomitar a bile, saídas das escabrosas profundidades do coração preto carvão de Matthew Bellamy.

Mas, pelo amor de Deus, é muito triste. Não é o Belle & Sebastian arrumadinho e melancólico, nem um soco no peito, estilo papai-nunca-me-amou, autopiedoso, sinta-a-minha-dor do Pearl Jam. Nem mesmo lindamente desolado e frágil como Thom Yorke, mas pós-apocalíptico, estilo Nick Cave, atormentado e com uma espada no coração, e também autodestrutivo, na beira da escuridão, porra-louca e desesperado no estilo Ian Curtis. Heróico, revigorante e cartasicamente trágico. Oba! E ainda assim, Matthew parece ser uma pessoa agradável, bem equilibrada. Por que tão carrancudo, Sadboy Slim?

“Hum…essa é a hora e o lugar certo?” Matthew se pergunta nervosamente, “eu não acho que seja. Não somos todo atormentados de alguma maneira? Eu sempre tive problemas… Acho que é como o existencialismo ou algo assim. Se todos estão tendo os mesmo problemas que eu, então o mundo é um lugar assustador.”

A música triste é um tipo de alívio perverso num mundo cruel?

“Tudo o que posso dizer é que o tipo de música que eu escutava quando era novo é como a que fazemos”, diz Matt, encolhendo os ombros, “aquele negócio sentimental e profundo foi o que me fez sentir bem porque alguém lá fora está dizendo as mesmas coisas que eu.”

É claro, o Muse será severamente ridicularizado por se levar tão a sério. Mas os cínicos disseram a mesma coisa sobre o Nirvana no fim dos anos 80. Lembre-se de que esses rapazes têm apenas 21 anos, e estão avançando para dentro de um novo milênio com suas feridas emocionais abertas.

“Acho que as coisas engrenam geralmente no início de cada década”, afirma Matthew, encontrando a luz no fim de um túnel muito longo e escuro. “Em 2000 ou 2001, as pessoas vão começar a ficar mais positivas. Existe muito medo por aí que as pessoas estão tentando negar, mas existe. E quando isso acabar, tomara que haja algo positivo. Ou isso ou extremamente negativo, hahaha! E então TUDO vai acabar…”

A primeira grande banda do século XXI acabou de chegar. Aproveite-os enquanto há tempo.

Comments: 9

  • dannyy

    29 de julho de 2010
    reply

    EU QUERO ESSA REVISTA!
    Sério, será que eu ainda encontro ela em alguma livraria? Eu preciso dela, é uma nessecidade real!
    (Me recompondo novamente…)A matéria é simplesmente ótima, e como disse esse tal de Stephen Dalton: A primeira grande banda do século XXI (e por enquanto a única)… aproveite-os enquanto há tempo.

  • Izaa.

    29 de julho de 2010
    reply

    Essa banda ainda tem muuuita estrada pela frente, espero que dure por muuuuuito tempo! banda melhor que muse? nao existe!

  • Maria Luiza

    29 de julho de 2010
    reply

    vende NME aki no Brasil ??
    Aaah e fujindo um pouco do assunto, eu achei uma foto da suposta esposa do Chris olha a foto ai > http://images.orkut.com/orkut/photos/OgAAAAWZ52wTZSYu6VRekUWvTL0ncSqKrHbjW-IosJ6h1Qv9jZkuLVGN5qih4Vg1rnwKOxtCjVn_tk9Tzl06QEvjpZ0Am1T1ULcfMPFEI48FECS5Yvn8UqNBKOQn.jpg
    é a que ele tá abraçando .. mas eu ainda não tenho certesa si é ela

    • Cris_of_Cydonia

      30 de julho de 2010
      reply

      Até onde eu sei, não é a esposa dele não. Essa foto foi tirada em Teignmouth antes do show A Seaside Randezvous, e a legenda dizia algo como “Chris se encontra com fãs antes do show”, ou coisa parecida! Além do mais essa mulher me parece meio acabadinha… Tipo… Sei lá. Imagino que alguém com tanto dinheiro se cuide melhor, né? XDDD

  • Maria Luiza

    29 de julho de 2010
    reply

    NOSSA, chorei viu por causa dessa entrevista .. Quem já viu o filme Control, sabe que o Matt lembra um pouco o Ian Curtis .. sempre ali batalhando e nunca disistiu ..

  • midias

    29 de julho de 2010
    reply

    eu acho a NME muito dramática. as matérias dela me dão uma certa canseira XD

  • Angie

    29 de julho de 2010
    reply

    Eu já ia discordar, mas, é a mais pura verdade, a NME é MUUUITO dramática sim. Sinto mto, eu ñ acho o Showbiz um álbum triste, pelo menos não o álbum inteiro. Coração preto carvão? Carrancudo? Trágico? Hã? o.o
    A entrevista é ótima, mas essa visão do Showbiz…

  • coltsfan

    30 de julho de 2010
    reply

    as revistas britânicas em geral são dramáticas msm… é a neblina e tal…

    anyways, gostei muito da matéria! bem legal…

  • MieBellamy

    26 de dezembro de 2010
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    O Matt Era Lindo na època, e agora é Maravilhoso< com aqueles seus Olhos D'gua Só falta eu ter um Infarte!! AMO ESSE MAGRELINHO BRANQUELO!

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