Tudo sobre a banda britânica Muse formada por Matt Bellamy, Dom Howard e Chris Wolstenholme.

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Matt: "Tavez eu seja um esquizofrênico limítrofe"

Em entrevista concedida a Ben Mitchell, publicada na Q Magazine em Setembro de 2006, Matt falou sobre o ‘novo’ álbum Black Holes and Revelations, seu passado em Devon, sua namorada e sobre a possibilidade de estar beirando a esquizofrenia. Confira aqui a tradução!

Tavez eu seja um esquizofrênico limítrofe.


MATT BELLAMY pede espaguete com tomate e bacon, uma cerveja e uma garrafa de óleo de pimenta ao garçom. É um dia agradável em Lake Como, Itália, quando me encontro com o vocalista para um almoço em um restaurante modesto na vila de Moltrasio. Os fãs de ficção-científica com olhos bons reconheceriam a área como a locação do planeta Naboo do filme Star Wars Episode II: Attack Of The Clones, enquanto os leitores de Hello saberiam que esse é o lugar onde George Clooney gosta de passar seu tempo livre.

Eu o vi quando estava andando de bicicleta pela rodovia, diz Bellamy. Ele tem esse barco, Riva, que é o barco mais caro conhecido pelos homens. Ele estava nele com duas moças bonitas. Eu não tinha certeza se era ele ou não, então eu tentei chegar mais perto e outro barco se aproximou com dois caras enormes nele, tipo, ‘Que diabos você quer?‘ Quando ele sai, ele leva os seguranças para manter uma zona de segurança ao redor dele.

É bem longe de Teignmouth, Devon, onde Bellamy, o baterista Dom Howard e o baixista Chris Wolstenholme começaram a tocar juntos como Muse, 12 anos atrás. No entanto, apesar do ambiente exótico e da vizinhança glamorosa – mesmo que um tanto indiferente, a escolha de Matt por esse endereço foi tomada por motivos práticos, uma vez que é a terra natal de sua namorada italiana.

Eu tenho passado bastante tempo por aqui nos últimos meses, ele diz. Estou transformando algumas salas em um estúdio, que é onde gravaremos esse álbum, mas os construtores levam anos para construir qualquer coisa. Eles disseram que estaria pronto em Setembro passado e até agora só estão na metade do caminho.

Com um negociador que sabe por um limite ao trabalho feito em casa, o quarto álbum de Muse, Black Holes and Revelations, demorou a ficar pronto.

Nós fomos para o Sul da França – Chateau Miraval [também usado por Pink Floyd no The Wall] – mas acabamos apenas escrevendo, na realidade. Fizemos a maior parte das gravações em Nova York e então fomos para Milão para finalizar. Se estivéssemos trabalhando em uma faixa e começássemos a soar como algo que já tivéssemos feito antes, nós a abandonávamos rapidamente. Esse foi o desafio.

Eclético mas não esotérico, o resultado é o álbum mais ambicioso, senão o melhor, até o momento. Tento construído a reputação de Rock ao Vivo Mais Excitante da Inglaterra, Muse agora parece ter se posicionado perfeitamente para se tornar interesse global, e em Bellamy eles têm o frontman certo para o trabalho. Um letrista intrigante e um artista intenso, fora dos palcos o cantor é um personagem pensativo e idiossincrático que tem interesses que vão além dos típicos músicos, cujo maior interesse é apenas saber qual país tem a melhor pornografia. Mesmo assim, depois de ler sua própria entrevista, Bellamy está convencido de que ele também é ‘um completo imbecil’.

Eu acho que durante conversas eu fico feliz em ‘viajar’, ele explica. Quando você está tomando uma cerveja no bar, e antes que você perceba, está falando sobre teorias da conspiração, abduções alienígenas e todo tipo de coisa estranha e as pessoas publicam isso como se eu estivesse fazendo uma declaração séria.

Quando vocês começaram, a banda sempre foi caracterizada como sendo os ‘rapazes de Devon’, mas nenhum de vocês é de lá, não é?

Não, não, cada um nasceu em um lugar. Eu nasci em Cambridge, Chris é de Rotherham e Dom é de Stockport. Eu acho que essa e a única coisa que tínhamos em comum, na realidade. Tem uma certa tensão local. Se você não é de lá, aprende isso desde cedo.

Você pegou o sotaque?

Não. E eu nem consigo fazer o sotaque muito bem. Tem uma coisa engraçada. Eu tive uma namorada por alguns anos que era a própria fazendeira, então isso foi o mais próximo que cheguei de ser caipira. Eu costumava sair e ver o irmão dela atirar nos testículos dos bois.

Eu li em algum lugar que, na verdade, era o seu dedo no gatilho.

Não, eu não era o atirador. Eu nunca seria estúpido o suficiente para atirar no saco de um boi, mas eu definitivamente vi ser feito e percebi que sou mais urbano do que eu pensava.

Onde você passava as ferias, nessa época?


Eu costumava ir à praia ou no Fliperama. Eu calçava mocassins para que eu pudesse criar estática, pois havia um método em particular com a máquina caça-níquel. Se você criasse um pouco de estática e colocasse uma moeda no buraco, a máquina reiniciava e as duas primeiras rodadas eram um jackpot, então eu basicamente ficava por lá fazendo isso o dia todo. Eu me saí muito bem, na verdade. Eu não precisava trabalhar muito embora eu tivesse um emprego de entregador de jornal.

Quanto era o jackpot naquela época? Quatro libras?

Não, menos que isso, por volta de £1.50. Eu jogava nas máquinas em que você colocava 10 pences e tinha direito a cinco rodadas. As que eram 10 pences por rodada estavam fora do meu alcance.

Como você passava o tempo, sem ser fazendo isso?

Não havia nada de muito interessante na vida noturna. Quando você crescia, no verão não ia mais aos fliperamas, você ficaria do lado de fora com uma garrafa de cidra e tentaria pegar umas garotas ou algo parecido, mas todas as garotas estavam fora, com os espertalhões mais velhos, em Capri. Eu digo velhos, mas acho que eles provavelmente tinham minha idade de agora. Na época eu tinha apenas 16. Aquele foi realmente um aprendizado sobre mulheres.

Presumivelmente, quando a banda se estabeleceu, atrair garotas deixou de ser um problema?

Na verdade, isso não acontece. Nós fizemos uma turnê com o Chili Peppers e sempre depois dos shows havia umas 30 mulheres esperando por Flea ou Anthony [Kiedis] sair e eles não faziam nada. Nós não entendíamos aquilo, de verdade. Estamos trabalhando nisso. Nós conseguimos, tipo… na Rússia havia uns artistas impressionantes que nos pintaram em posições estranhas. Um deles me pintou nu com um falcão no ombro. Eu fiquei parecendo o Mr. Burns dos Simpsons. Foi muito perturbador.

Você ainda o tem?

Dom guardou só prá me irritar. Está em algum lugar da casa dele.

Quando você terminou a escola e trabalhou como pintor e decorador em Exeter, você era bom nisso?

Eu era muito bom, sim. Há muita dignidade nesse tipo de trabalho. Eu gostava muito.

Que tipo de erro as pessoas cometem quando tentam fazer esse trabalho elas próprias em casa?

É principalmente a preparação. Você tem que se certificar de que está tudo lixado apropriadamente, tapar todos os buracos.

Qual foi a primeira coisa que você comprou quando recebeu seu primeiro cheque decente da banda?

Um Paramotor. Eu ainda o tenho, o único problema é que eu nunca terminei minhas aulas. Tem alguma coisa tão boa naquilo, é só uma máquina de voar simples.

Como ele funciona?

É um motor de 50cc com um propulsor. E tem um parapente, que parece em grande pára-quedas. Eu não o uso desde que comprei. Custa cerca de £6000.

Isso era algo que você sempre quis?

Eu havia lido sobre isso. Eu achei que eu poderia ganhar a vida assim, pendurando faixas com propagandas e sobrevoando festivais… como Compre Red Bull, ou algo parecido. Quando estávamos fazendo o DVD, por volta do segundo  álbum, o produtor me ofereceu £500 para sobrevoar um show do Jamiroquai em Verona com uma câmera. Eles queriam uma tomada aérea. Eu imagino que seja algo que eu gostaria de fazer.

Você é esportista?

Eu gosto de snooker. Mas eu não sou muito bom. Minha maior pontuação foi 30, talvez. Eu tento jogar squash, mas eu continuo correndo de encontro à parede.

Como é dirigir um Lotus?

Suponho que essa seja minha aquisição tola. Nós estávamos tocando em London’s Docklands [em 2001], nosso primeiro show em arena, e tinha uma loja que vendia esses carros na esquina. Antes do soundcheck eu fui e comprei e dirigi até arena, o que foi bem divertido. Era só um Elise, nada muito chamativo. O problema foi que eu bati na traseira de um BMW 7-series, que era enorme. Nós estávamos fazendo um photoshoot para esse DVD chamado Hullabaloo onde estávamos usando esses estúpidos chapéus e ternos brancos. Não sei porque estávamos vestidos como um bando de idiotas, mas estávamos. Estava chovendo e eu tinha tido uma pequena briga com a minha namorada e então tive que ir prá casa.

A fazendeira?

Não, minha namorada atual. Eu pulei no carro e dirigi com um pouco de pressa. Eu estava indo e o carro na minha frente parou no semáforo, eu pisei no freio e literalmente metade do meu carro foi parar debaixo do outro carro. O cara parecia um pouco irritado, mas eu saí vestindo o chapéu e carregando uma bengala e aquilo foi o suficiente. Ele começou a rir. Felizmente o carro dele estava completamente intacto. A frente do meu foi destruída.

O que você tem agora?

Tenhos dois clássicos americanos. Eu comprei um Mustang Fastback 1966, que está com o pneu furado, e um T-Bird 1962, que é o antigo carro do Beach Boys. Não tenho mais nada. A verdade é que o meu seguro é… Eu tenho nove pontos na minha carteira. Nada demais, só algumas conversões proibidas. Isso faz com que os custos do meu seguro sejam profundamente desconfortáveis. Esse foi um dos motivos para eu comprar os carros na America – são carros clássicos então são mais baratos para segurar. Quando estou aqui minha namorada tem um Beetle, um desses novos, mas está na garagem no momento.

Como você conheceu sua namorada?


Ela estava estudando para ser psicóloga, em Londres. Agora ela está fazendo Doutorado em um hospital em Milão. Ela usa um jaleco branco, que é bem legal. É interessante, eles mostram aos pacientes um vídeo de uma mulher colocando cortinas na casa e outra mulher dizendo, Eu não gosto dessa cortina, parece uma porcaria. Então eles entrevistam os esquizofrênicos e perguntam o que eles acham que aconteceu. É impressionante, eles vêem algo completamente diferente do que realmente aconteceu. Eles dizem, Ah, ela está morrendo de ciúme da outra mulher e quer matá-la.

Qual a sua interpretação?


Inveja. Minha namorada diz que é, aparentemente, o início de interpretar as coisas da maneira errada, pois não há elementos disso no filme. Esquizofrênicos lêem as coisas de maneira errada, são paranóicos, então qualquer coisa que alguém diga é mal-interpretada. Dom diz que eu faço muito isso, então talvez eu seja limítrofe.

O que estava em sua mente quando escrevia as letras para esse álbum?

Algumas coisas, na verdade. Eu estava lendo um livro chamado Crossing The Rubicon de Michael Ruppert. É sobre a situação do petróleo e o Império Americano em ruínas. Ele mudou a forma como eu vejo as notícias. As organizações clandestinas, o FBI, CIA, NSA, só anunciam coisas como ‘Esse país tem armas nucleares e você não pode investigar’. Eu não diria que é uma lavagem cerebral extrema, mas há certa maquiagem (da verdade) acontecendo.
E isso não era tudo. Às vezes você sente que estar em uma banda e esse estilo de vida te leva prá longe de quem você realmente é. Durante e última turnê, tivemos muitos altos e baixos. Tivemos um péssimo momento em Glastonbury quando o pai do Dom morreu logo após o show. Aquela foi uma experiência muito perturbadora para todos nós. E, acima de tudo, você acaba ficando um pouco mais solto nas turnês…

Solto?

É fácil cair no estilo de vida de festa todos os dias, então quando algo grave acontece, é um grande choque e te faz por os pés no chão de novo. Te faz querer voltar a ser quem você era  – às vezes você sente que está rodeado de pessoas que não estão realmente falando com você. Você fica com uma noção um pouco distorcida da realidade. Buracos negros e revelações (Black holes and revelations) – foram dois assuntos que montaram a maior parte desse álbum. A revelação é sobre você mesmo, algo pessoal, algo genuíno da sua natureza diária com que as pessoas podem se identificar. Então os buracos negros são essas músicas que são mais… de regiões desconhecidas da imaginação.

Você tem uma persona no palco?

Eu acho que o jeito que eu sou no palco é quem eu realmente sou. Todo o resto é minha persona. Se você está indo bem, você está esbarrando em coisas que tem impedem de se expressar na vida normal – sentimentos mais profundos, emoções mais intensas e coisas que não são aceitas pela sociedade, talvez. Quando você está sendo revistado num aeroporto você quer dizer, Cai fora, não me toque, seu babaca. Você não pode fazer isso na vida real, pois você provavelmente seria preso, mas você pode dizer em uma música. É uma versão não editada de quem você é. Para mim, há algo de puro nisso.

BELLAMY paga a conta, agradece ao garçom em um italiano passável e saímos do restaurante para andar à beira-mar. Vestido elegantemente de preto com suspensórios brancos, parece que algum estilista regional se esfregou nele.

Eu acho que quando você arruma uma namorada ela tende a começar a te dizer o que vestir, então isso tem me ajudado um pouco.

Ele diz, mexendo na gola de sua camisa.

Isso é H&M, eu acho.

Apesar de viver o que aparenta ser a literal definição de la dolce vita – e obviamente sem a necessidade de trapacear nas máquinas caça-níquel para ganhos suplementares num futuro próximo – Bellamy, no entanto, carrega uma tocha para a região de Devon que alguns chamam de Riviera Inglesa.

Eu sinto falta de lá. Meus pais não moram mais lá, então eu não tenho nenhuma desculpa para ir a Teignmouth. É bom lá… quer dizer, é legal.

O vento sopra e ele levanta a mão para barrar o raios de sol que refletem da água cristalina. Um sorriso.

Mas isso aqui é melhor.

Comments: 15

  • Krol

    11 de julho de 2010
    reply

    Eu não consigo ver os scans, a parte de cima de de baixo estão cortadas. Mas parabéns ao Musebr, por mais uma tradução linda *-*

    • Cris_of_Cydonia

      11 de julho de 2010
      reply

      Vamos passar as imagens para a galeria, daí vai dar prá ver direitinho, tá?

  • zsbianca

    12 de julho de 2010
    reply

    Só nas revistas de outros países eles aparecem :3

    Matt poético como sempre *-*

    • Izaa.

      12 de julho de 2010
      reply

      Só nas revistas de outros países eles aparecem :3 [2]
      Matt é muuito doido! haha *-*

  • dannyy

    12 de julho de 2010
    reply

    Também acho que o Matt é um pouco esquizôfrenico. Em geral as entrevistas com o Matt são sempre boas, mesmo quando as perguntas são uma bosta, ele responde com humor inteligente.
    O melhor de tudo foi o comentário do entrevistador:parece que algum estilista regional se esfregou nele!

  • coltsfan

    13 de julho de 2010
    reply

    acabei de ler a matério hoje! hehe…

    • Cris_of_Cydonia

      13 de julho de 2010
      reply

      Huahuahuahua em suaves prestações???

  • hanna s.

    13 de julho de 2010
    reply

    Só vi que a entrevista era antiga quando ele falou da Gaia *lesada*
    Por mais que ele fale algumas coisas sem sentido às vezes eu adoro suas entrevistas, são divertidas.

  • Marii.

    13 de julho de 2010
    reply

    Ficou muito legal essa entrevista. Ele consegue fazer uma pergunta idiota tornar-se legal. Por isso que admiramos ele. O “Black Holes & Revelations” é fantástico. Nossa, amo esse álbum.

  • Nicole

    15 de julho de 2010
    reply

    Como já disseram, realmente o Matt tem uma inteligência imensurável ao ponto de transformar perguntas tão idiotas em algo interessante!
    Essa entrevista foi como se ele abrisse o diário da vida dele, acho isso muito legal!
    Mas queria que ele voltasse com a Gaia, hahaha!

    • dannyy

      15 de julho de 2010
      reply

      Não sei por que mas eu prefiro ela.

  • MieBellamy

    19 de novembro de 2010
    reply

    Matt vc é um Gênio!!!

  • paolaBellamyHowardWolstenholme

    30 de dezembro de 2010
    reply

    A inspiração dos meus melhores sonhos… te amo Matt

  • paolaBellamyHowardWolstenholme

    30 de dezembro de 2010
    reply

    Matt vc é um gênio [2]

  • paolaBellamyHowardWolstenholme

    5 de janeiro de 2011
    reply

    matt eu amo vc!

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