Especial NME: A turnê do Muscle Museum (Parte III)

Parte final da matéria republicada na revista NME em maio de 2010. Texto de James Oldham.

O Muse é uma banda que está se desenvolvendo rápido. Suas apresentações ao vivo, em toda a sua glória tumultuosa de Andrew Lloyd Webber, já transcende qualquer coisa que você tenha ouvido sobre o Showbiz – e eles estão exibindo uma ou duas canções novas que, péssimos títulos como Plug In Baby à parte, são um longo desvio de tudo que eles já escreveram até agora. Assim como o The Bends do Radiohead sucedeu o prosaico Pablo Honey, há a sensação de que o mesmo vai acontecer com o Muse.

Eles podem ser um grupo que admite se submeter aos desejos da gravadora em termos de promoção, mas parece que a interferência termina por aí. Eles já juntaram nove ou dez canções, mas ninguém precisa ficar ansioso ainda, pois eles só começarão a gravá-las depois do Reading Festival.

“O que existe em nós”, diz Matt, revigorado com um vinho italiano, “é o medo da repetição; eu nunca vou fazer um álbum só por fazer porque estão nos dando um tempo para usar o estúdio. Deixei isso claro desde o início. Só vamos começar a fazer o segundo álbum quando alcançarmos um estágio no qual poderemos oferecer algo completamente diferente do Showbiz.”

“Acho que agora estou no meio de uma transição. Alguns dos filmes que vi desde o Showbiz me influenciaram, como Quero Ser John Malkovich, Clube da Luta e Matrix. Por quê? Porque foram os primeiros filmes que me fizeram pensar ‘é nisso que eu estive pensando’”.

Então devemos esperar uma polêmica sombria e anticapitalista? “Tenho isso em mim”, diz Matt, na cara de pau. “Estou tentando decidir se quero destruir a sociedade ou fazer dela um lugar melhor. Mas as canções não são sobre isso…” Não? “Bem, uma ou duas canções são sobre como abandonamos a religião nessa cultura em favor da tecnologia, enquanto outros países não fizeram isso”, diz ele, retomando um tema anterior. “Quero falar mais sobre as relações que existem entre nós e como elas são afetadas pelo modo como vivemos, os empregos que temos, as tecnologias que usamos e como elas servem para nos separar. E o resto das canções são só sobre como eu mudei nos últimos cinco anos.”

Então é isso, vai ser um pouco como o Ok Computer (brincadeira). O que deixa a NME com uma pergunta final a fazer. Você prefere ser famoso ou fazer um álbum aclamado pela crítica? “É uma boa pergunta”, Matt ri, calmo. “Seria legal pensar que o que você fez foi bom o suficiente para conectar milhões de pessoas, mas não quero ficar insistindo se não for para acontecer. Se o que eu fizer não estiver em sintonia com outras pessoas, então é justo, posso viver com isso.”

Isso não responde a pergunta.

“Bom, não tenho certeza (fica agitado)”. Olha: você prefere ser o Bush ou o The Velvet Underground? “Hm, sei lá. The Velvet Underground”, diz abruptamente. “Mesmo que eu não os conheça. Jesus.”

Tendo reduzido Matt a um estado de agitação confusa, o gravador da NME desliga. O Muse quer ser como o The Velvet Underground. Só que popular. Eles vão continuar a fazer muitos shows até isso acontecer. Algumas pessoas acham que eles são a melhor banda nova da Grã-Bretanha. Agora que você os conheceu e descobriu que eles não são só cachorrinhos comerciais, está na hora de se decidir. Mas você devia se apressar. Praticamente todo mundo já se decidiu.