Tudo sobre a banda britânica Muse formada por Matt Bellamy, Dom Howard e Chris Wolstenholme.

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Especial NME: O Muse está entrando em colapso?

Matéria publicada na revista NME em março de 2001 e republicada em maio de 2010 como edição de colecionador. Texto de Mark Beaumont.

No estúdio durante a gravação de Origin of Symmetry, a conversa é sobre farras com cogumelos e gente nua, orgias japonesas e as lanças de metal em suas cabeças.

A segunda vez que Matt Bellamy pensou estar perdendo a cabeça foi quando ele começou a comer larvas. Era o terceiro dia que o Muse passava numa Jacuzzi, nus, e qualquer traço de sanidade havia sido exterminado de seu cérebro pelos melhores cogumelos mágicos da Mãe Natureza. Seus colegas de banda se sentavam em bolhas, rindo, enquanto ele via a fatia de cogumelo em sua mão passar de vegetal a larva, e então começar a se contorcer freneticamente. Ele respirou fundo, fechou os olhos, pôs na boca e começou a mastigar.

E ficou instantaneamente surdo de um ouvido.

Estávamos gravando nos estúdios de Ridge Farm, Matt tagarela, atropelando as palavras como se as estivesse vomitando, terminamos as cinco primeiras canções do álbum, então acordamos um dia e havia um campo cheio de cogumelos bem do lado do estúdio. Então comemos todos. Tivemos que remixar tudo porque estávamos todos numa Jacuzzi, comendo cogumelos. Eles se transformaram em larvas e não sabemos bem o porquê.

A primeira vez que Matt Bellamy pensou estar perdendo a cabeça foi quando as lanças estavam indo atrás dele. Foi no meio da cansativa turnê de festivais do ano passado, na Europa, no Japão e na Austrália, e o cansaço começou a ficar evidente. Ele tingia seu cabelo com uma cor diferente a cada dia e pintava as veias de preto nos braços “porque ficava legal”. Os shows tinham ficado tão destrutivos e imprevisíveis que o Muse foi banido pela maior empresa de equipamentos do leste europeu e gastou a maior parte do dinheiro destinado ao segundo álbum em guitarras arruinadas e orgias em suítes presidenciais (no Japão eles se tornaram notórios por entreterem o máximo possível do público local de uma só vez). No fim de um show insano, Matt se enfiou dentro de um dos enormes cones brancos que havia no set do palco e teve que rolar para debaixo do elevador da bateria, até que o público saiu do local, numa mistura de demônio da Tasmânia com Derek Smalls.

Não sei ao certo se teria como ir mais longe que aquilo, Matt pondera. É como a morte. Você sente como se o tempo estivesse acabando e tivesse que fazer a diferença nos últimos momentos que você tem no palco. Trata-se de por tudo para fora antes de partir.

Mascando bacon frio num grandioso quarto dos fundos de um estúdio secreto no Tâmisa, onde o Muse está entalhando os detalhes finais do segundo álbum, Matt, o doce, mas quieto baixista Chris Wolstenholme e o baterista com cara de bebê e apreciador de bebidas, Dom Howard, estão relaxados, sem tingimento, e graças a Deus, completamente vestidos. Eles estão empolgados e ansiosos para deixar todos de joelhos quando ouvirem o novo single, Plug In Baby – um encontro de O Fantasma da Ópera com o The Clash em Netuno -, um Nº 1 de sucesso fácil. Mas no último verão, quando sua grande guerra relâmpago punk de ficção científica deixava rastros de sangue, sêmem e seguranças de bares feridos, eles eram um musical e uma bomba-relógio psicológica, uma banda que dirige a toda velocidade na estrada para o inferno, andando de carona na Harley flamejante da madame Hedonismo, mas no final, cara, foi a água que acabou os ferrando.

Eu tenho um problema em beber água, Matt confessa. Não sou muito bom nisso. Quando saí em turnê pela primeira vez, eu costumava ficar desidratado e ter dores de cabeça muito fortes nesse lugar aqui (aponta a parte de trás da cabeça). Eu não percebi que era porque eu não estava bebendo água. Lembro-me de ter umas alucinações estranhas com uma lâmina triangular, de um material metálico bem prateado e afiada como uma navalha. Eu estava numa paisagem completamente árida, cinza e morta, com um horizonte sem fim; era como um planeta maior que esse porque o horizonte era muito plano e continuava para sempre. O céu estava azul, muito quente, e eu estava lá, tentando me esquivar dessas lâminas que estavam voando por todos os lados. Uma sempre me atingia e me cortava bem aqui. E não cortava a minha cabeça, ela simplesmente entrava e eu podia sentia senti-la cortando dentro do meu cérebro. Não danificava a parte externa da minha cabeça. Eu costumava sentir isso repetidamente, parecia mais que um sonho para mim, parecia que estava realmente acontecendo; aquilo ficava comigo durante o dia, viajando de avião… Eu não conseguia parar de pensar nisso.

Eu beberia mais água, amigo.

Vi um programa na TV uma noite, Matt prossegue, e estavam falando sobre Psywar, uma guerra psicológica, e as influências que o governo tem tido sobre a população para fazê-la acreditar que eles estão em guerra pelas razões certas, coisas assim. Como eles podem usar celulares, usar micro-ondas para fazer coisas com a gente. Eu achei que era isso o que estava acontecendo.

Você pensou que o governo estava tentando controlar seu cérebro usando o seu celular?

Não necessariamente o governo, mas eu pensei em várias teorias diferentes. Chegou num ponto em que eu estava achando que aquela era a vida real e que isso aqui era tudo um sonho. Então pensei que era uma das várias fobias que eu tenho, aí fui no médico e ele me disse para beber mais água, e foi isso.

Mas são as drogas da obediência na água que eles estão usando para nos dominar, irmãos! Aham, passe a água para cá. Saúde.

Como Lee ‘Scartchy’ Perry diria, a águia do talento não chega atacando a menos que a loucura seja o seu poleiro, minhas couve-flores. E Matt Bellamy é um maluco do rock classe A, um psicodesgraçado com a personalidade dividida no grau mais alto. Um ano inteiro de caos na estrada, mais uma série de bons hits de seu álbum de estréia, Showbiz,  que vendeu meio milhão de cópias, foram como alimentar o demônio tenso e inseguro de Matt com um pouco do remédio de 1999 depois da meia-noite e libertar o Matt monstro escravizante de dentes afiados. Ele se considera um tipo de cyborg do Traço Mágico que pode apagar todos os elementos de sua personalidade “entendiada e frustrada” pré-Muse e “baixar” uma nova em folha a partir de conhecidos. Suas experiências modeladoras envolvem jogar pintinhos recém-nascidos na parede (Mas só publique isso se você mencionar que eu só tinha seis anos na época) e quebrar o pescoço de faisões por cinquenta pence cada como apanhador em jogos de tiro em aves. No palco, ele trata sua guitarra como se ela fosse um ladrão tentando escapar e captura o Névoa Vermelha no menor erro técnico. Ele é um Hannibal hardcore, um Norman Bates com uma banda, Seven – Os Sete Crimes Capitais aumentados para onze.

Bem como o novo álbum do Muse, a próposito. Tentando furiosamente abrir seu caminho para fora da armadilha enquanto falamos, ele é um álbum expansivo e explosivo que deixará os veteranos do Vietnã pasmos em meio à poeira de seus canos de descarga, perguntando-se onde suas sobrancelhas foram parar. Uma exibição antecipada das faixas completas (ainda não intituladas) mostra uma enorme ambição que leva a grandeza dos órgãos de igreja, lampejos de experimentos com sintetizadores e montes de rock que fazem Impacto Profundo parecer Cantando na Chuva. É o Muse concretizando cada polegada do jorro de hype e muito mais. Seus principais temas são morte, tumulto, morte, pontas de metal no seu cérebro, morte, os enigmas do universo sempre em circulação, morte, morte e morte.

Escrevi uma canção que acho que vou chamar de Thoughts of a Dying Atheist, Bellamy anuncia. Estou tentando imaginar como seria morrer nessa situação, naquele último momento, quando você realmente acredita que é mesmo o fim. Tentei invocar os pensamentos que estariam ocorrendo. Não consigo achar nada em que acreditar, e esse é o problema. Consigo ver as falhas de qualquer religião muito rapidamente. Além disso, mesmo se tudo for pura ciência, tudo o que parece sair disso é anti-humano. Se realmente quiséssemos evoluir usando a ciência, então projetaríamos criaturas geneticamente melhores que poderiam viver no espaço e respirar em outras atmosferas. E voar. Mas estávamos falando do leito de morte, e se aquilo é realmente o fim, você iria querer voltar e viver a vida mais amoral possível. Se esse é o caso, por que não estamos todos enlouquecendo?

Ai, tá bom. Mas antes de nos despirmos, engolirmos um balde de heroína e sairmos transando pela rua, você acha que a hora do Muse chegou?

Matt ri: Hyip-hyip-hyip! Espero que não. Fico feliz por não termos feito sucesso de cara. Seria legal saber como é ser uma grande banda, a maior de todos os tempos, isso seria ótimo, mas é melhor ganhar isso gradualmente, pois aí você sabe como aproveitar. Levei um bom tempo para aprender a gostar disso. Se acontecer agora, vou saber o que fazer. Explodir tudo, é isso o que há. Se eu conseguir, vai com ser o objetivo de consumir tudo.

Segure-se firme, pois o Muse é uma estrela prestes a se tornar uma supernova. Ligue, plugue e queime.

Comments: 7

  • dannyy

    12 de agosto de 2010
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    Matt é massa!
    Quanto mais doidão, mais legal ele fica.

  • Cris_of_Cydonia

    13 de agosto de 2010
    reply

    Detalhe nº1: a música que Matt pensava em chamar de “Thoughts of a Dying Atheist” em Origin of Symmetry acabou sendo chamada de “Megalomania”.

    Detalhe nº2: Daquele sonho louco de lâminas penetrando cérebros saiu “Micro Cuts”!

    Duas das minhas música ‘mais’ preferidas EVA!♥

  • coltsfan

    13 de agosto de 2010
    reply

    super foda! matéria muito boa!

    Matt B. <3

  • Izaa.

    13 de agosto de 2010
    reply

    Matéria ótima!!! Matt é muuuito pirado!! Mas é essa loucura que deixa a banda especial! Hyip, hyip , hyip!

  • Maria Luiza

    13 de agosto de 2010
    reply

    aaaaaaaaah,o legal é isso ‘pessoas loucas’ todas as pessoas loucas fizeram susseso tais como Kurt Cobain

  • yasmim

    14 de agosto de 2010
    reply

    “Sim,você é louco,louquinho.Mas vou lhe contar um segredo:as melhores pessoas são assim!”

  • Maria Luiza

    20 de agosto de 2010
    reply

    “Tenho um chapeu de cauboi que vai ficar muito legal. Ele é branco com uma estrela nele”

    ri litros com isso

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