Tudo sobre a banda britânica Muse formada por Matt Bellamy, Dom Howard e Chris Wolstenholme.

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Especial NME: “Se você publicar isso, vão achar que eu sou louco” (Parte II)

Segunda parte da matéria republicada na revista NME em maio de 2010. Texto de Victorial Segal.

No entanto, não são só os góticos que têm o Muse em seus corações teatrais. Apesar do escárnio inicial em sua terra natal, a condição doméstica do Muse está melhorando numa velocidade impressionante. Enquanto o piano de cabaré do hotel ondula sofisticadamente ao fundo, o Muse discute as implicações do salto repentino em sua fama e o tamanho do show em Docklands.

Acho que talvez seja um pouco grande demais, admite Matt, que fala da mesma forma como toca piano, o bater dos seus dedos ameaçando ensopar a fita. Mas o Dom acha que está tudo bem. Ele quer ser um baterista de stadium rock e quer ter um assistente para jogar a toalha e secar o suor. Estamos trabalhando bastante com vídeos para conseguir close-ups do piano e do bumbo da bateria – coisas que você nem veria num show feito num bar. Close-up extremo e distância extrema ao mesmo tempo, que eu acho que combinam com a música.

Ele está certo. As músicas deles podem lidar com o espaço, cicatrizes e “cordas de marionete em nossas almas”, mas o Muse prefere sair com seus fãs a encorajá-los a escrever cartas com o próprio sangue, aproveitando a sensação de comunidade que eles experimentam na estrada. Matt fica quase emotivo com a filmagem do vídeo de seu novo single Hyper Music/Feeling Good, para o qual fãs foram trazidos como figurantes.

Eu vi pessoas olhando de um jeito engraçado para a gente, Matt explica. Quando um cara estava mandando todos ficarem atrás de uma linha, eu dei a volta por trás e fiquei lá com eles. Isso me tocou, Matt se contrai, eu vi algo, eu vi algo… Eu vi uma beleza por um instante… Uma quantidade estranha de afabilidade. Eles realmente me atingiram – Eu senti como é estar dentro da música do ponto de vista de outras pessoas.

E todos riem.

As bandas geralmente preferem se retratar como forasteiros melancólicos, incompreendidos, como uma mistura profana de Marlon Brando com James Dean – mesmo se eles fossem rapazes populares, capitães do time de futebol, e recebessem cartões do Dia dos Namorados de metade das meninas de sua série. Afinal, apenas os fãs do Limp Bizkit querem uma banda que seja uma instituição. Na teoria, o Muse – zombados pelos seus colegas, considerados como “esquisitos”, fora do consenso predominante – deveria entender o genuíno deslocamento adolescente.

Eu era amigo de todo mundo, diz Matt, contraditoriamente. Eu costumava fazer muito teatro na escola – fazíamos viagens a lugares que eram assombrados e fazíamos atividades improvisadas. Dom costumava me zoar, mas a verdade era que eu fazia aquilo por causa de uma garota com quem eu queria transar.

Era o começo da nossa primeira banda, Dom explica, ironicamente. Nós saímos e praticávamos com a banda, aí eu procurava o Matt e o encontrava aos prontos num grupo de teatro em algum lugar e dizia ‘vamos lá, recomponha-se, vamos agitar’.

Todas as pessoas que eram realmente populares na escola são mecânicos agora, diz Chris, calmamente. Eu costumava andar com os caras durões, admite Matt, destruindo qualquer imagem de alienação delicada. Íamos para o centro da cidade, ficávamos chapados, arrumávamos briga… E eu ficava assistindo. Eu era um bom zagueiro no futebol. No primeiro ano de escola eu fazia todos rirem, mas as minhas habilidades cômicas desapareceram no terceiro ano. Então comecei a andar com garotas. Era o Dom que pertencia ao grupo dos ‘caras de cabelo grande que querem fazer música com guitarra’. Matt faz uma confissão: Quando eu entrei para a sua banda, eu estava usando uma roupa esportiva. Dom: Calça e jaqueta de náilon e um corte militar…

Mas assim que você começa a achar que o Muse é familiar à popularidade, um curioso testa-de-ferro dos sem-direitos, Matt deixa um sorriso escapar.

Nós fizemos a escolha de não ir para a universidade e as coisas ficarem meio obscuras por alguns anos, ele explica. Isso nos fez voltar para nós mesmos, para fazer música que agradasse um ao outro. Até o ponto em que podíamos tocar para uma pessoa que não dava a mínima e, ainda assim, nos divertirmos. Isso fez com que não ligássemos para o que qualquer um pensasse. Mas talvez a vez a maneira como lidamos com isso está fazendo com que a nossa música diga ‘vá de f*deeer!’.

Ele diz isso com a intensidade de Linda Blair, um rosnado baixo e furioso, que chega a ser bem alarmante. Afinal, eles só têm 23 anos – e as cicatrizes de seus problemas na cidade natal ainda são profundas. Só é preciso olhar para todo esse absurdo de scally versus mosher em Manchester para ver que esse é um problema de gerações contínuo – basicamente, ter um cabelo esquisito ainda causa confusão.

Quando voltamos para Teignmouth, todos nos odeiam porque acham que criticamos a cidade. Eles dizem que lá é lindo; lindas praias, as pessoas deixam as portas abertas… Mas para jovens de 15 anos só existem drogas e brigas. Os caixas eletrônicos ficavam de frente para os fliperamas, Matt explica, e os caras durões ficavam perto dos caça-níqueis. Todas as vezes que íamos pegar dinheiro, virava um campo de guerra. Você achava que ninguém tinha nos visto e então alguém gritava ‘(grunhe) Você me chamou de p*nheteeeeiro?’, aí você perguntava ‘O quê?’. Então dois caras passavam por cima do Dom e batiam nele. Era horrendo.

Essas pessoas não eram da escola, Chris explica. Eram caras mais velhos que andavam com meninas de 14 anos.

Eles dirigiam Capris amarelos com dados na frente e vendiam drogas para as crianças, basicamente, Matt continua. Só existem uns quatro ou cinco deles em cada época porque eles sempre acabam na cadeia ou mortos.

Matt fica pensativo:

Secretamente, fico com uma vontade de voltar e…

Chris:

Pegar uma grana?

Matt pausa por um segundo:

Pegar uma arma.

Aguardem a parte final!

Comments: 3

  • musemaniac14

    21 de agosto de 2010
    reply

    para fazer o que?, estou ansioso para saber, as entrevistas com os tres são sempre as melhores e mais empolgantes, imagino o que eles falaram a seguir…
    por um segundo: pegar uma arma…

  • coltsfan

    21 de agosto de 2010
    reply

    demorei um ano pra ler tudo mas tudo bem!
    legal essas entrevistas e matérias… muito bom!

  • dannyy

    21 de agosto de 2010
    reply

    Tchan-tchan-tchan-tchan!!!
    (Só pra esclarecer, isso é suspense :p )

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