Q&A com Matt Bellamy

O jornal australiano Herald Sun conversou recentemente com Matt. Leia a transcrição abaixo:

Herald Sun: É verdade que o tour do Muse está vindo para a Austrália de barco?

Matt: Bem, o equipamento está. Estou tentado a ir de navio também, mas acho que ficarei entediado após três semanas no mar.

H: Como você descreveria a produção?

M: Será definitivamente a maior produção que já fizemos na Austrália, de longe. Em termos de arenas fechadas, é provavelmente a produção mais cara e levaremos todas aquelas coisas para o país. Agora você entende porque os barcos foram envolvidos.

H: Qual é o conceito?

M: A idéia é 1984, de George Orwell. Nós tocamos em cima dessas estruturas que nos colocam a uma boa distância da platéia, é como se estivéssemos presos em cima das torres. No meio do show, elas descem e vira um show normal de rock.

H: Alguém já caiu dessas torres?

M: Ninguém caiu ainda, mas tivemos vários problemas. O pior aconteceu em Los Angeles, deu tudo errado. As plataformas em que estávamos tocando tinham cortinas em volta, que caem no começo do show e nos revelam lá em cima. Daquela vez, uma delas ficou presa e derrubou todas as minhas guitarras da plataforma, todas quebraram. Essa foi a primeira coisa que deu errado. A segunda foi que a torre de Chris (Wolstenholme, baixista) não quis descer. Tocamos a primeira música inteira (Uprising) e ninguém conseguiu ver o Chris.

H: Essa turnê australiana marca o fim do The Resistance?

M: Basicamente, sim. Pensamos em fazer alguns shows ano que vem, mas não realmente uma turnê. Sentimos saudades de Moscou, então faremos uma apresentação por lá eventualmente. Provavelmente tocaremos em um festival. E com o U2, faremos uma turnê pela América do Sul.

H: Vocês tocaram “Where the Streets Have No Name” com o The Edge no Glastonbury desse ano…

M: É uma das minhas músicas preferidas, foi ótimo ter a oportunidade de cantá-la. Eu não conseguia fazer a parte da guitarra muito bem, foi ótimo ter o The Edge lá para tocar com a gente. Adoro o modo como ele toca guitarra, é bem diferente.

H: E o The Edge retribuiu o elogio quanto à sua habilidade com a guitarra?

M: Ele disse algumas coisas legais, mas acho que falou só para ser gentil. Ele é como eu – gostamos dos efeitos do pedal e tentamos fazer a guitarra soar como alguma coisa diferente. Temos uma conexão nessa área.

H: Jay-Z delirou com o set do Muse, no Coachella desse ano. Ele falou o quanto amou o show?

M: Encontrei com ele brevemente e a primeira coisa que ele quis saber era sobre Devon, o lugar de onde somos. Ele é amigo do Chris Martin, vocalista do Coldplay – muitas pessoas não sabem que Chris é de Devon também. Jay-Z lembrou disso e falou: “O que acontece lá em Devon? Devon deve ser um lugar bem legal” e eu respondi: “É, apareça por lá para tomar uma xícara de chá e para ver as ovelhas e vacas” (risos). É engraçado que pelo ponto de vista dele, parece que Devon é um lugar onde tudo acontece, quando na verdade é uma área rural no fim do mundo – no bom sentido!

H: No Big Day Out, em janeiro, você disse que era hora de comprar um trator e desaparecer numa fazenda. Ainda é um plano?

M: Sim, eu me tornei um criador de ovelhas. É sério, tenho 50 ovelhas e dois carneiros. Enquanto estamos conversando, deixei os carneiros soltos com as ovelhas. Escolhi as ovelhas principalmente porque comprei uma fazenda cheia de colinas íngremes, então a grama cresce fora de controle a não ser que você coloque animais para pastar. E era muito íngreme para as vacas. Tenho Dorset Downs, elas são muito resistentes e aguentam o clima.

H: Então agora você é um fazendeiro de verdade!

M: Sim, e eu não tenho touros…! É uma tosquia de ovelhas. Mas o principal é manter a terra. Eu não moro lá, é apenas terreno com dois celeiros velhos, que precisam de reforma. É um bom lugar para acampar. Meu plano a longo prazo é cultivar maconha industrial para fazer papel, mas ainda não fiz isso. Quando eu terminar as turnês, ficarei lá por um tempo e tosarei as ovelhas.

H: Se você pensasse em fazer novas músicas agora, qual direção o Muse seguiria?

M: É muito cedo para dizer. Gosto da idéia de nós três morando no mesmo lugar, para o próximo álbum. Já se passou um bom tempo desde que vivemos juntos, foi em Devon, há muitos anos. No último álbum, eu estava na Itália e os caras vieram para ficar por aqui um pouco. Gosto do fato de podermos passar um tempo um na casa do outro para um jam, de não levar tudo tão a sério, de voltar a ser como era quando começamos. Estamos tentando chegar a um acordo quanto ao lugar em que viveremos.

H: Você estará casado quando chegar a hora de fazer um novo álbum. Bom, pelo menos é o que dizem as revistas de fofocas.

M: Oh, eu não tenho idéia do que você está falando (risos). Nenhuma idéia mesmo.

H: Você passou a alimentar os tablóides desde que começou a namorar a Kate Hudson. Você acha que estão se intrometendo demais na sua vida particular?

M: Er, eu não percebi isso. É menos invasivo do que eu pensei que fosse ser, entende o que eu quero dizer? Vejo muitas pessoas reclamando sobre isso, mas não é tão ruim assim.

H: E também se você está feliz com o relacionamento, quem se importa de ter um fotógrafo lá?

M: Definitivamente é parte disso, sim. Quando se está em um momento bom, você não liga para as outras coisas.

H: Quando você faz turnês com o U2, deve aprender várias boas lições de como manter uma banda junta por 30 anos.

M: Aqueles caras curtem muito (risos). Fiquei impressionado. Eles me deram esperanças para depois dos meus 40 anos. Não me lembro de ter curtido tanto assim nem quando tinha 20 e poucos. Estávamos passando por um período de ficar mais relaxados, mas aqueles caras estavam em fúria! Lembro de ter pensando: “Whoa, talvez passar dos 40 não seja tão ruim assim!” (risos).