Tudo sobre a banda britânica Muse formada por Matt Bellamy, Dom Howard e Chris Wolstenholme.

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[TRADUÇÃO] VICE: QUEM SÃO OS FÃS DO MUSE?

A Inglaterra tem o hábito de se apegar às coisas, simplesmente porque elas nunca foram embora. Várias coisas que deviam ter desaparecido anos atrás perduraram; apoiadas em sua inofensibilidade, recusando-se a morrer. E nós deixamos.

Sempre coloquei o Muse nesta categoria. Eu tenho lembranças vagas de apreciá-los quando era um pré-adolescente nos anos 2000; o entusiasmo cru e angustiado do riff inicial de Plug In Baby nos fones de ouvido do meu Walkman no caminho para escola; a carinha estranha de Matt Bellamy estampada na capa da NME. Mas em algum ponto, eu e meus amigos perdemos o interesse e seguimos em frente para outras coisas. Sua performance teatral constante, seus comentários sociais de nível colegial, e óculos aviadores pendurados em blusas gola V tornaram-se difíceis demais de digerir, e eu, talvez arrogantemente, presumi que os outros perderiam o interesse também.

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Mas esse trio de Devon nunca foi embora, não é? Eles estão por aí por mais de duas décadas e sete álbuns. Semana passada, foi anunciada que a banda seria uma das atrações principais do Glastonbury pela terceira vez e ninguém sequer começou uma petição. Sua atual tour mundial já arrecadou mais de 16 milhões de libras em vendas de ingresso, com 131 shows internacionais até agora. Eles se tornaram permanentemente a atração principal britânica. Matt Bellamy, um homem que pensa que seres humanos são escravos geneticamente modificados para os aliens e a rainha é uma metamorfa reptiliana, é hoje mais famoso do que nunca.

Claramente eu estou perdendo alguma coisa, porque os números não mentem. Devem existir muitos Fãs Dedicados do Muse por aí. O cara sentado a duas mesas de você no escritório pode ser um Fã Dedicado do Muse. A menina com quem você estava conversando ontem a noite na área de fumantes pode ser uma Fã Dedicada do Muse. Você pode ser um Fã Dedicado do Muse. Aparentemente, fãs de Muse estão em todos os lugares, apesar de eu não fazer ideia quem eles são.

Decidi ficar por perto da Arena O2 antes do show esgotado da banda e conversar com as pessoas, entender sua paixão e porque Muse se tornou mais popular que água. A primeira pessoa que eu encontrei foi esse cara (abaixo), que quase me derrubou depois de dar umas cambalhotas bem empolgadas em um morrinho gramado.

Renatas, 22

renatas

Noisey: Quando você começou a gostar de Muse?

Renatas: Eu estava no Youtube quando eu era muito jovem e eu pensei “oooh, qual é essa música de fundo nesse vídeo illuminati esquisito?” e então eu ouvi a música Uprising. Eu estava numa maratona de vídeos do Youtube quando você quebra a cabeça pensando sobre o que tá acontecendo no mundo.

N: Certo, então… Muse é parte dos Illuminati.

R: Existem teorias que eles controlam o mundo e essas coisas, ou estão procurando resolver os problemas do mundo e ajudando as pessoas.

N: Muse está salvando o mundo?

R: É, digamos que sim.

N: Como Muse faz você se sentir?

R: Eles fazem músicas pra guerreiros. Tipo “Vamos nos unir! Vamos matar os caras ruins! Digam a eles que eu não me rendo! Digam que lutei até o último suspiro!”.

N: Maneiro.

Nesse momento, eu decidi ir embora porque ele estava dando uns chutes no ar e comendo Doritos com queijo ao mesmo tempo. Eu fiquei um pouco decepcionada que meu estereótipo preguiçoso de um fã do Muse não estava tão errado. Eu vim aqui pra ser provada errada – não para ter minhas percepções ecoadas de volta infinitamente. Se isso é como são os fãs de Muse, as coisas estão bem piores do que eu imaginei. Então eu continuei andando e encontrei esse cara, que parecia razoavelmente não-maníaco, e ansioso para falar.

Sam, 21

Sam

Noisey: Oi. Como você se tornou um fã do Muse?

Sam: Bom, a gente sempre ouve as músicas deles no rádio porque eles são uma banda grande e popular, mas eu acho que eu só ouvi a discografia completa há um ano atrás. A música deles é muito contemplativa e crítica da sociedade – especialmente o novo álbum Drones. É sobre como somos todos drones sem consciência. Essa é, na verdade, a primeira vez que eu vejo o Muse ao vivo e tem sido um sonho meu. Eu comprei os ingressos no meu aniversário de 21 anos.

N: Qual é seu álbum favorito e por quê?

S: Black Holes and Revelations porque é a melhor música pra se exercitar. Se eu estou andando na minha bike e preciso de energia, ele realmente me anima.

N: Matt Bellamy traiu Kate Hudson. Seu comentário?

S: Eu não acredito em fofoca de celebridades. Eu acho que as celebridades já têm dificuldades só em ter suas vidas pessoais. Só deixe-os em paz. Deixe-os viver. Relacionamentos falham.

N: Boa resposta.

Então, fãs jovens de Muse existem. Porém, ele claramente não é um super fã e ele havia vindo com seus amigos. Eu decidi tentar achar alguém sozinho, preferivelmente com uma camiseta do Muse, para que eu pudesse aprender mais sobre o que pode fazer alguém amar Muse com uma paixão inquestionável. Eu queria achar o fã do Matt Bellamy mais Matt Bellamy.

Carl, 32

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Noisey: Essa é a primeira vez que você vê o Muse ao vivo?

Carl: Não, é a quarta vez.

N: Você se considera um super fã?

C: Não, mas eu gosto da banda desde 2004.

N: Você vai ver eles no Glastonbury esse ano?

C: Não, Glastonbury é muito cheio pra mim. Prefiro ir vê-los num festival como o Download.

Carl parecia bravo por eu estar falando com ele, o que eu achei estranho porque se você está usando uma camiseta do Muse em um show do Muse, claramente você está convidando alguém para falar sobre Muse com você. Nesse momento, eu também percebi que havia uma quantidade desproporcional de caras indo ao show do Muse. Filas e filas de caras brancos e héteros em bandos, tomando cervejas artesanais, indo ver o show juntos. Decidi dar mais uma volta na fila tentando achar uma mulher com quem eu pudesse falar. Eu encontrei Sophie (abaixo), que veio sozinha.

Sophie, 25

Sophie

Noisey: É a primeira vez que você vem a um show do Muse?

Sophie: Não, é minha 19ª vez.

N: Agora sim. Por que você gosta tanto deles?

S: Eu acho que eles são muito cheios de energia. Sempre tem muita coisa acontecendo. Eu gosto dos palcos e da iluminação. Eu faço iluminação para teatro, então eu acho muito interessante. Obviamente a música é boa também, caso contrário, eu não viria ao show.

N: Mas deve ser bem entediante ver a mesma coisa de novo e de novo, não é?

S: Não, não é. Eu os acompanhei em tours. Eu acompanhei em diferentes locais pra ver como é a apresentação. Eu provavelmente venho pelo trabalho do palco mais do que muitas pessoas.

N: Eu imagino quantas pessoas vão ver shows do Muse pelo trabalho do palco… Enfim, qual é a sua melhor lembrança relacionada ao Muse?

S: Eu vou ser muito honesta, eu passei por um estado de depressão, como muitas pessoas passam. Eu estava numa estação de trem e eu estava pronta pra pular, e eu coloquei Muse no meu fone de ouvido e me fez pensar “Quer saber? Existem tantas coisas boas na vida, você não devia desistir.” Então essa é minha melhor conexão ao Muse.

N: Uau. Isso é bem importante.

S: É, naquele “espirito” do momento eles salvaram minha vida.

N: Aproveite o show hoje.

Eu me senti uma babaca falando com a Sophie. O amor dela pelo Muse é inquestionável. Para mim, os refrões épicos e poderosos da banda sempre soaram como anúncios de fornecedores de internet, mas para Sophie, eles chegaram num momento na vida dela em que ela precisava de algo para animá-la, para dar-lhe de volta algum poder e mostrar a ela que existe luz na escuridão. O amor de Sophie pela banda pareceu muito mais puro que a minha curta e grossa indiferença por eles. Também me fez basicamente questionar a validade da minha carreira inteira até agora. Antes de me afundar em melancolia, eu encontrei esse casal feliz (abaixo), que viajaram de Norwich para essa noite.

Liz e Dave, 58 e 65

Couple

Noisey: Por que vocês são super fãs do Muse?

Liz: Eu amo a música deles, eles sempre lançaram álbuns muito bons, e essa é a terceira vez que nós vemos eles ao vivo.

N: Quantas vezes por semana você ouve as músicas deles?

L: Todo dia. No caminho para o trabalho e no caminho de volta pra casa.

N: Como eles fazem você se sentir?

L: Bem e feliz. Eles fazem um ótimo show de luzes, não é? Fale alguma coisa, Dave.

Dave: É, eles fazem um bom show de luzes. Eles estão ficando melhores com o tempo. Eu fui ao show deles na Wembley Arena duas vezes.

N: Você ficaria impressionado com quanta gente me disse o quanto gostam do palco e a iluminação.

Satisfeita que eu tinha conseguido meu final feliz, eu estava prestes a deixar todas essas pessoas entrarem e aproveitarem todos aqueles riffs extraterrestres que eles tanto gostam, quando eu ouvi um bando de homens berrando, batendo em seus peitos e derrubando Jack Daniels nos seus sapatos na frente de uma Tesco Express. Eu me senti magneticamente atraída a eles.

Lawrence, 23

Noisey: Oi! Como vai?

Lawrence: Desculpe, eu estou um pouco bêbado. Eu estou aqui com meu pai e meu irmão, e nós sempre vamos a shows e bebemos. Eu vim na O2 antes para o show do Black Sabbath.

N: Qual é a diferença de ver o Muse e o Black Sabbath ao vivo?

L: Eu não sei, não importa. É MÚSICA AO VIVO!

N: Desde quando você gosta do Muse?

L: Desde que eu estava na escola, na verdade. Eu comecei a gostar deles quando eles estavam ficando bem famosos. Quando eu era criança, eu costumava acordar cedo pra entregar jornais e assistir Scuzz ou Kerrang! pela manhã. Foi aí que eu vi Muse pela primeira vez.

N: Então é um amor baseado em nostalgia?

L: É, definitivamente. Quando você ouve, você sabe que é Muse. E tem algo especial em um trio que faz um som tão grande.

N: Se Matt Bellamy morresse essa noite e você tivesse que substituí-lo com alguém, quem seria?

L: Ninguém poderia substituí-lo.

[Nessa hora, o pai do Lawrence apareceu…]

Darrel, 47

Darrel

 

Noisey: Oi! O que traz você aqui?

Darrel: Meus filhos compraram um ingresso pra mim no Natal, então estou indo a um show com meus garotos. É a primeira vez que eles me pagaram pra ir a um show.

N: Quem é o maior fã, você ou seus filhos?

D: Meus filhos são. Eles estão tentando me educar depois que eu os eduquei. O primeiro show que eu os levei foi do Madness e depois Bad Manners em Butlins. Então eu os levei pra ver AC/DC, Iron Maiden e Trivium. Eu queria criá-los com metal e rock.

N: Você acha que Muse está no mesmo nível dos maiorais?

D: Bom, nós provavelmente vamos ter que ouvir Psycho Killer mais tarde.

N: Valeu pela conversa. Até mais tarde.

Enquanto eu deixava a peculiar selva de concreto de North Greenwich (se você nunca esteve lá, é uma versão fria e com baixo orçamento de Dubai), eu percebi que provavelmente eu nunca entenderia o charme do Muse. Música, por sua natureza própria, é profundamente subjetiva e, portanto, o hino de uma pessoa pode fazer outra querer arrancar sua pele. E eu comecei a quase invejar aquilo.

Contudo, depois da minha noite sondando os Supermassive Musers – eu estou chamando-os assim, mas eles não se chamam assim – eu me sinto um pouco mais perto de entender quem vem a um show do Muse e porquê. Eu pensei que fosse ver um monte de caras brancos que falam frases de The Big Bang Theory e fazer air guitar quando saem à noite, mas existe essa incrível diversidade de pessoas chegando nesse show. O consenso é que Muse faz as pessoas se sentirem mais poderosas ou pra cima, animadas. Muse ajudou pessoas a superarem depressões quando eles estavam passando por momentos terríveis. Pais vieram compartilhar a experiência de ver Muse com seus filhos.

Casais se apaixonaram ouvindo Muse, e ver a banda ao vivo fez eles se aproximarem ainda mais. Alguns vieram pelos riffs, alguns vieram por Matt Bellamy, e alguns vieram só pelo trabalho de palco. Fãs de Muse são como os fãs de outras bandas, na verdade. Eu nunca pensei que diria isso, mas: um brinde ao Muse.

Tradução: Marcela Rodrigues
Revisão: Flavia Amaral

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A equipe mais animada, doida, faladeira e confusa que um fã clube de Muse poderia ter. Nós amamos Muse de todo o coração assim como (a maioria) dos seus fãs. A dedicação é de coração.

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