Tudo sobre a banda britânica Muse formada por Matt Bellamy, Dom Howard e Chris Wolstenholme.

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[ENTREVISTA] GUITARWORLD: “NÃO ESPERO QUE ALGUÉM ABSORVA TODOS OS NOSSOS ÁLBUMS IGUALMENTE”

Matt deu uma entrevista ao site GuitarWorld, onde falou sobre a produção de Simulation Theory, reações dos fãs e o que pensa sobre o rock atualmente. Confira os melhores momentos!

De um modo geral, as bandas de rock geralmente tendem a se preocupar em fazer sua música soar mais, não menos orgânica. É interessante que você tenha sido motivado por uma espécie de força oposta.

Sim. Eu sinto que Muse sempre ocupou esse espaço, embora no nosso último álbum, Drones [2015], tenhamos deixado de lado esse som sintético e sobrenatural em direção a uma abordagem mais rock, focando principalmente na guitarra, no baixo e na bateria como a instrumentação principal de cada música. Nós estávamos tentando alcançar performances orgânicas e cruas ao vivo. Desta vez, quisemos voltar para onde acho que Muse está em seu melhor, que é essa convergência entre o orgânico e o sintético.

Você mencionou a música “Thought Contagion”. Ela é interessante porque, além de transformá-la de uma música de piano em uma música de rock, também há uma vibe r&b. Parece que você usou uma bateria estilo 808 para o ritmo.

Isso é exatamente o que é! Essa é uma autêntica bateria eletrônica 808 nos versos. Não é uma versão de plug-in. É a autêntica.

O que o levou a querer trazer todos esses sons diferentes e exagerados?

De certa forma, estamos abraçando os tempos em que vivemos. Como uma banda de rock nesta década, não há razão para que, do ponto de vista da produção, nos restrinjamos aos instrumentos que somos treinados para usar, que são guitarra, baixo e bateria, e talvez piano. Outra coisa é que vivemos neste mundo de streaming onde todos, ou pelo menos a maioria das pessoas, ouvem muitos gêneros diferentes. Já não estamos em uma época em que as pessoas se identificavam apenas com um gênero de música, como o século XX foi com o rock e pop. Agora, as pessoas simplesmente amam a música que amam. E eu acho isso muito emocionante porque reflete o que eu sempre pensei sobre música.

Quanto a reconhecer as mudanças nesta era, lembro de uma entrevista recente em que você discutiu o fato de que, nesta década, a guitarra não é mais usada como instrumento principal. É mais um acompanhamento textural.

Eu disse isso. Mas na verdade, eu gostaria de reformular essa frase. Usar a palavra “principal” foi meio enganoso. Hoje em dia, o único tipo de guitarra que é relevante, ou pelo menos útil, é a guitarra que se apresenta como sendo uma guitarra. E com isso quero dizer que não se fica apenas palhetando ao fundo como acompanhamento. Nos anos 1990, os power chords eram o som principal. Era uma maneira de dizer: “Somos uma banda de rock”. Mas nesta década a guitarra geralmente não é o som dominante em uma música. Mas ainda é um instrumento principal, pois quando recebe destaque, tem destaque. E é assim que eu trato a guitarra nesse álbum.

Enquanto alguns guitarristas lutam contra a mudança da guitarra no rock, e anseiam por um retorno aos de riffs e solos épicos dos anos 1970, você parece estar bem confortável com o rumo das coisas.

Sim, com certeza. Talvez seja porque eu também toco outros instrumentos, então nunca me identifiquei totalmente apenas como guitarrista, ou pianista, ou cantor. Eu me identifico como um criador de música. Além disso, o rock como um gênero está mudando, e precisa mesmo mudar. Não é mais uma força dominante nas paradas pop. Acho que encontrar maneiras de incorporar outra instrumentação no Muse tem sido uma espécie de paixão nossa, e é algo que estamos mantendo.

Qual foi seu setup principal em Simulation Theory?

Quanto aos amplificadores, eu tenho um [Marshall] JTM45, um vintage do início dos anos 1960. Também usei muito o Vox AC30, assim como um Diezel. Com três amplificadores eu consigo a maioria dos meus sons. Também coloquei alguns sons diretos neste álbum [DI, direct input], onde eu passava o sinal de guitarra direto, por exemplo, por um pré-amplificador de microfone [Neve] 1073 e aumentava bem o ganho para conseguir um fuzz.

Qual é um exemplo de DI no disco?

O riff de guitarra em “Break It to Me” é DI, misturado com um som de amplificador. “Get Up and Fight” é parcialmente DI, assim como o solo de guitarra em “Dig Down”. Às vezes os sons de DI, especialmente quando tocados com um fuzz interessante, ficam mais contemporâneos que microfonar um amplificador, sabe? Eles entram de um jeito meio diferente.

E as guitarras?

Eu praticamente só usei minha Black Manson para tudo. Tenho algumas que eu uso em turnê, é só uma Manson preta padrão. É uma que projetei há alguns anos, fica entre uma Fender Telecaster e talvez uma Gibson SG em termos de consistência corporal e formato, peso. Há duas músicas neste álbum – “Propaganda” e “Something Human” – onde eu toco violão, e para essas músicas eu usei um Manson que fiz para este álbum.

Como você abordou os efeitos?

Tenho um rack de efeitos que uso em turnê que consiste em um sistema Fractal. Mas no estúdio eu uso uma seleção de pedais. Eu usei um reverb interessante em algumas músicas, incluindo “The Dark Side”, que é do Rich Costey, produtor dessa música. Era um pedal Space Echo preto. Outra coisa interessante foi o Korg SDD-3000 digital delay. Tem a mesma placa que o delay original da Korg do começo dos anos 1980, que o Edge usa, e eles criaram uma versão em pedal.

Outra coisa que usei neste álbum foi o sintetizador de guitarra. Ele tem um bom destaque, especialmente no solo em “The Dark Side” e também no solo de “Break It to Me”. Eu tinha um captador Fishman no meu violão ligado a um sintetizador. Conseguimos obter todos os parâmetros da minha performance – dinâmica, bends, estilo de palhetada, tudo – e depois traduzir isso em informação MIDI, que poderíamos enviar para qualquer sintetizador. Por exemplo, o solo de guitarra em “The Dark Side” na verdade é minha guitarra passando por um amplificador, provavelmente o Marshall, mais um Prophet V. O sintetizador respondia com precisão a qualquer coisa que eu tocasse. A tecnologia existe há algum tempo, mas está muito mais em voga do que antes. Isso é muito empolgante.

Você tende a preferir sons de guitarra muito alterados, e muitas vezes extremos, seja usando um sintetizador de guitarra ou incorporando efeitos ao circuito de seus instrumentos. O que você acha interessante sobre esses tipos de sons?

Eu gosto da ideia de criar algo que me diferencie da história da guitarra. Estou tentando criar meu próprio som e estilo com o instrumento. Quando eu pego uma Fender Stratocaster, eu costumo tocar puxando para o blues. Antes que eu perceba, estou tocando riffs de Hendrix e Clapton. É uma coisa parecida quando toco uma Les Paul. Não sei se tem a ver com a forma de um instrumento ou o tipo de som que ele produz, mas certas guitarras têm uma história muito grande, uma conexão com os guitarristas lendários. É quase como se eu não quisesse estar nas sombras deles. Eu prefiro criar um novo instrumento ou um novo som e, portanto, criar minha própria identidade. Isso é algo que eu senti desde cedo – para a guitarra ser empolgante para mim, eu precisava fazer algo novo com ela e tocá-la de uma maneira que não fosse apenas uma homenagem a outra pessoa.

Existe alguma coisa que você ainda queira explorar na guitarra?

Estou bastante interessado no que Ed Sheeran faz com os sistemas de loop. Isso é algo que nunca experimentei, mas gostaria de tentar. Especialmente agora, com o acesso eu tenho a sons sintetizados na minha guitarra. Ainda não comecei, mas em algum momento quero experimentar mais com alguns sons em loop.

Desde o início da banda, expandir o som do rock é uma marca registrada de Muse, o que, imagino, é uma das coisas que seus fãs realmente apreciam em sua música. Ao mesmo tempo, às vezes eles reclamam quando você se afasta demais do padrão, como as músicas mais influenciadas pelo pop neste álbum, “Dig Down” e “Something Human”. As pessoas são muito rígidas em termos de expectativas?

Acho que muitas vezes, no fundo, essa exigência toda é um elogio disfarçado, porque algumas pessoas se apaixonam tanto por uma música ou álbum que elas não gostam muito da ideia de mudança. Isso representa um momento em que eles realmente se conectaram com sua música. Mas não espero que alguém absorva todos nossos oito álbuns da mesma forma e ame todos igualmente. Todo mundo vai gostar de certas coisas mais do que de outras.

Então você aceita que seus fãs não necessariamente amem tudo que você faz.

A forma que vejo é que temos um grande repertório – oito álbuns, lados B e coisas ao vivo. É bastante empolgante e, de certa forma, libertador como artista poder dizer: “Olha, vá em algum serviço de streaming, toda a nossa música está lá. Aproveite o quanto quiser. Escute o que você ama, não precisa ouvir nada que não quiser.” E tenho esperanças de que uma ou duas dessas músicas que estamos adicionando a esse grande repertório se tornem amadas também.

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Aqui tem informação! Tradução também. E umas coisas a mais.

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