Tudo sobre a banda britânica Muse formada por Matt Bellamy, Dom Howard e Chris Wolstenholme.

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Especial NME: A turnê do Muscle Museum

Matéria publicada na revista NME em junho de 2000 e republicada em maio de 2010 como edição de colecionador. Texto de James Oldham.

As coisas ficam mais interessantes no fim da turnê Showbiz, enquanto descobrimos uma secreta herança de estrela do rock, mentes questionadoras e histórias de feitiçaria em Devon.

No momento em que o Muse entra no palco no Columbia Fritz de Berlin, a discussão sobre eles serem apenas mais uma banda indie cai por terra. Precedidos por coros retumbantes e iluminados por três cones brancos e radioativos, eles passam os próximos sessenta minutos maravilhando seu público alemão com ondas de sons serrilhados e uma atmosfera bem Spinal Tap.

Escalas arábicas, experiências de combustão ao estilo de Hendrix, ruído branco, melodias em cascata, e o falsete de porcelana de Matt Bellamy se fundem numa cacofonia épica que é um pouco Queen e um pouco multidão do Vaticano. No fim, o baixista Chris Wolstenholme está sendo carregando nas costas pelo auditório, enquanto Matt Bellamy está de pé numa caixa de som com sua guitarra por trás da cabeça. Então, ele chuta o amplificador para o chão e se atira na bateria de Dom Howard. No centro do palco, uma garota, balançando os braços furiosamente por cima da cabeça, começa a gritar.

O Muse tem feito isso por um ano – se arrastando de território a território, fazendo show após show e gradualmente construindo um alterego inclassificável do rock. Exceto pelo curioso instante de destruição aleatória (um camarim de Munique pelo preço de três mil libras), essa tem sido uma subida sem interrupções. Showbiz já vendeu mais de 250 mil cópias no mundo todo (70 mil na Inglaterra), e espera-se que seu próximo single, Unintended, seja o primeiro da banda a entrar para o Top 10.

O Muse se diferencia dos demais por pensar grande. Eles são a única nova banda que está realmente disposta a se divulgar em todas as casas de show da Europa. E então fazer tudo de novo. Nesse verão eles estão para enfrentar uma guerra de trincheira em mais de quarenta festivais. Eles não têm nada em comum com bandas como Embrace e Idlewild ou com qualquer outra de soldados rasos indie que você se incomodar em mencionar. Eles estão num plano diferente. Até o ônibus de turnês dele parece que foi projetado pela NASA.

Faça-lhes uma simples pergunta sobre o que andam ouvindo e eles vão começar a falar sobre Hector Berlioz, um compositor francês do século XIX cuja obra Grande Messe Des Morts foi considerada como a trilha sonora para o Dia do Juízo Final. Claro, eles são pretensiosos, ridículos até, mas isso é bom. O Muse é o próprio grupo de rock hoje-tomamos-Valhalla – e a Grã-Bretanha não tem visto um desses há muito tempo.

Mas por tudo isso, você ainda pode ficar desconfiado. Há vinte e quatro horas a NME também estava. Para o observador comum, o Muse parece falso e premeditado, uma banda que deu sorte porque Jeff Buckley está morto e o Radiohead está de férias. Em outra época, talvez eles não significariam nada – mas é por isso que eles estão agora sentados de frente para nós, nesse isolado restaurante italiano, tentando se justificar.

“Sempre vou expressar o que sinto, mas não posso realmente descobrir o que está por trás disso. Bem no fundo, pode ser ganância ou alguma outra coisa doentia ou pode ser só a vontade de ser amado por alguém. Sei lá. O que você quer dizer quando pergunta se podem confiar em nós?” Bem, que o Radiohead, o Nirvana e Jeff Buckley não estão aí para fazer grandes coisas, e não sabemos se vocês estão. “Bom, isso é bem difícil, não é?”, ele acorda de repente. “Vocês estão ferrados? Não sei. Você vê um artista como Tom Waits e ele sempre foi questionado sobre o quão verdadeiro ele era. Quando ele estreou, todos disseram que ele era uma cópia do Captain Beefheart, uma enganação. Quando eu o vi, no entanto, simplesmente acreditei nele. Se ele tem vivido uma vida que corresponde às suas letras, isso eu não sei, mas ele definitivamente consegue tocar nessas emoções.”

E aí está o X da questão. O álbum de estréia do Muse é uma explosão de r

aiva gótica distorcida. Contém uma música (Falling Down) que se apropria do blues. Contém uma outra (Sunburn) que se cerca contra a natureza corporativa da indústria musical. O resto é uma aula magna de tormento generalizado. Os rapazes do Muse estão todos por volta dos 21 e estão aproveitando atualmente o grande sucesso da profissão que escolheram. Algumas pessoas se perguntam por que exatamente eles estão fazendo música desse tipo.

Os três passaram seus anos de escola no arquetípico fim de mundo em Teignmouth, Devon – um lugar que, como descrito em entrevistas anteriores, faz a Liga dos Cavaleiros parecer inofensiva. Lá, eles viveram frustrações parecidas com as de milhares de outros adolescentes. Eles estavam entediados, eram destrutivos e queriam sair. Mas havia diferenças.

“O jeito como a banda foi formada”, Matt explica, tomando um gole numa taça de vinho, “foi devida a toda uma massa de músicos que não tinha nada para fazer. Havia uma energia obscura que era muito negativa para a cidade de onde eles vieram. Fora isso, havia todo tipo de combinação, com pessoas fazendo bruxaria. Não era nada de mais. Eram apenas crianças.”

“Havia especialmente três garotas com quem eu andava, e elas meio que faziam canto improvisado. Tudo o que saia disso eram momentos em que me sentia muito emotivo e estranho, mas era só isso. E eu só andava com elas porque houve uma grande separação num grupo de amigos e… Eu estava separado deles. “

A adolescência de Matt foi incomum em outros aspectos também. Sua mãe era médium (e o próprio Matt aventurava-se com tabuleiros Ouija), enquanto seu pai era o ex-guitarrista do The Tornados – um grupo dos anos 60 produzido pelos próprios Phil Spector e Joe Meek. O pai de Matt frequentemente contava histórias de como Meek jogava mesas de mixagem no grupo e sacava armas para eles durante as gravações (Meek acabou atirando no rosto de sua proprietária e explodiu a própria cabeça). Os pais de Matt se separaram quando ele tinha 13 anos – e a partir de então, foi criado pela avó. Nos momentos cruciais de sua vida, ele estava sendo guiado por alguém que estava a duas gerações de distância dele. Inevitavelmente, isso criou tensões – tensões que, em grande parte, eram liberadas por canais musicais (ele esteve numa série de bandas como nomes horríveis, como Gothic Plague, durante esse período).

“No palco, eu me sentia livre das restrições do dia a dia”, ele explica agora. “A música fazia isso por mim desde os seis anos de idade. É difícil falar sobre esse tipo de coisa. Eu não ficava naquele estado ouvindo música, mas tocá-la foi o que sempre fez efeito para mim, mesmo quando a música de Dallas era tudo o que eu sabia quando tinha cinco anos. Lembro-me do meu irmão dizendo ‘Isso é legal, você pode tocar isso’. Era terapêutico. Não consigo explicar direito.”

A música, no entanto, não era sua única libertação. Quando essa entrevista acaba, ele leva a NME para um canto e explica como ele também estava atraído por certas atividades criminosas, algumas bem sérias. O que ele diz não é para ser divulgado, mas claramente – se o Muse não tivesse decolado – a vida dele estaria agora seguindo um caminho bem diferente. Talvez isso explique porque ele diz coisas como “Tenho interesse pelo subconsciente, pelas questões sobre a razão da nossa existência. Quando você pesquisa sobre isso, é como um buraco negro que não leva a lugar nenhum. Quanto mais fundo você chega, mais o cérebro começa a reagir de um jeito criativo, que é o que acontece quando os humanos vão por esse caminho.” Mas não acontece, na verdade.

Continua amanhã, pessoal, pois a matéria é bem longa!

Comments: 8

  • Maria Luiza

    6 de agosto de 2010
    reply

    Muse perfeito, a historia deles é um pouco parecida com a do Nirvana

  • Izaa.

    6 de agosto de 2010
    reply

    Showbiz é foda! muse é foda!

  • Rochelle

    7 de agosto de 2010
    reply

    Porra, queria saber dos crimes, hahaha.

  • coltsfan

    7 de agosto de 2010
    reply

    adoro essas matérias…

    NME <3

  • Laisa

    7 de agosto de 2010
    reply

    Eu queria saber desses crimes [2]

    • Izaa.

      8 de agosto de 2010
      reply

      Eu queria saber desses crimes [3]

  • midias

    7 de agosto de 2010
    reply

    confesso que fiquei em choque com a parte que fala dos produtores do The Tornados.

    #TENSO

  • dannyy

    7 de agosto de 2010
    reply

    Continuo querendo a revista…

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