Especial NME: As histórias por trás das músicas

Matéria publicada na revista NME em maio de 2010 como edição de colecionador.

De atear fogo em políticos a querer roubar a felicidade de conhecidos, as letras de Matt Bellamy são umas das mais agressivas e criativas do rock. Aqui ele nos guia pelo pensamento por trás de algumas de suas mais fascinantes canções…

Bliss

Um dos vários destaques pop de Origin of Symmetry, Bliss lembra a Matt tanto sobre sua infância porque ela faz referência inconscientemente a uma música da trilha sonora de Top Gear do Nintendo.

É uma canção que fala sobre a paz e o contentamento que outras pessoas têm e sobre querer roubar isso. Ela me toca porque é muito positiva, animada, e parece muito com o electro-pop dos anos 80, e por alguma razão isso me lembra da minha infância.

 Invincible

Parte dois do que o Muse considera como o ponto central do Blackholes and Revelations (a banda a vê como o lado positivo da mesma história contada em Soldier’s Poem), Invincible foi originalmente escrita num hotel barato na área dos Grandes Lagos, na América, em 2005, quando Matt estava de cama devido a um resfriado contraído depois da chuva que caiu durante uma viagem de pesca da banda.

Quando escrevi Invincible, a letra mudou várias vezes. Originalmente, ela não era uma canção de amor absolutamente. Havia versos nela que tinham um viés mais político. Era como um chamado socialista, tipo – vamos lá, vamos nos juntar e queimar as Casas do Parlamento. Era meio parecido com algo saído de V de Vingança ou algo assim. Então, por alguma razão, eu a transformei completamente numa canção de amor. Eu também não estava confortável com isso, então ela acabou ficando no meio das duas idéias. Nem tão direta para ser política, nem óbvia o suficiente para ser de amor – é uma canção que você pode aplicar a coisas diferentes. Na verdade, só estou cantando sobre mudança e que para fazê-la, você deve fazê-la em conjunto. Sinto que uma mudança tem realmente que acontecer.

 Map of the Problematique

A faixa mais dançante de Blackholes and Revelations refere-se a um livro chamado Limits to Grow, encomendado pelo Grupo de Roma, em 1972, para documentar os problemas que o mundo enfrentaria se o crescimento da população continuasse na mesma velocidade e os recursos naturais diminuíssem. Ele estima que todos os recursos naturais da Terra seriam gastos até 2070 e dava exemplos terríveis de fome e guerra como resultados. Para amenizar o choque de tais descobertas, críticos afirmaram erroneamente que os autores do livro previram o esgotamento das reservas de petróleo para 92.

É como a nossa ode à época das raves. Tem um pouco de piano com um aspecto de rave dos anos 90. Eu era adolescente um pouco depois de elas estourarem nos fim dos anos anos 80, mas eu costumar ir e ver o Orbital e outras coisas, balançando meus braços e uns pauzinhos no ar. O som da guitarra levou três dias para ser criado e o equipamento custou vinte mil libras para ser construído, mas eu poderia ter conseguido com uma semana a mais. 

United States of Eurasia

A primeira faixa a ser lançada do The Resistance. Essa faixa épica trata de uma batalha futurística entre as Américas e uma associação entre o continente europeu e asiático. A canção foi lançada por meio de uma “caça ao tesouro” mundial na internet na qual “agentes” deviam abrir “estações”, desvendando enigmas que os levavam a encontrar representantes do Muse em várias cidades do mundo em determinada hora.

Definitivamente tivemos uma discussão [sobre a imitação do falsete ao estilo do Queen num verso de United States of Eurasia]. Toda vez que o ouvíamos, começávamos a rir. É para a canção ter um sentido emotivo, então podemos deixar essa nota meio Queen ficar nela? No fim, pensamos ‘dane-se, nós amamos isso, está dentro!’

As letras mais malucas do Muse

Knights of Cydonia

O fechamento épico de Blackholes and Revelations é uma história de fantasia, ficção científica e caubóis sobre uma figura no estilo do Cavaleiro Solitário vagando por uma região de Marte, Cidônia, na qual Matt acredita já ter existido vida. A canção inclui um tributo ao pai de Matt – o guitarrista do The Tornados, George Bellamy -, já que a guitarra de Matt soa exatamente como o clavioline usado no maior sucesso do The Tornados, Telstar.

Megalomania

Para dar a Megalomania o enorme espírito de igreja que a banda queria, O Muse vasculhou as catedrais da diocese de Bath & Wells procurando por um órgão de igreja no qual eles poderiam tocar. A igreja de St. Mary, em Bathwick, permitiu que eles tivessem acesso ao órgão, com a condição de que pudessem ver uma folha com a letra da música para garantir que eles não fossem adoradores do diabo.

Apocalypse Please

A abertura bombástica de Absolution foi inspirada pela guerra do Iraque e apresenta algumas idéias bem radicais sobre religião – é basicamente a história de um homem chamando seu Deus para descer à Terra e resolver os problemas do mundo, além de argumentar que líderes com pensamentos religiosos anseiam pela realização das previsões apocalípticas a fim validar suas crenças. Porém, as gravações não foram tão sérias assim – o som da marcha foi feito pela banda pisoteando sobre um caminho de cascalho e a bateria do Dom foi gravada na piscina do estúdio, sentado num colchão inflável e vestindo apenas um calção.

Take a Bow

Para gravar Blackholes and Revelations, o Muse convenceu o dono de um velho estúdio no remoto Castelo Miraval, na França, a reabrir o estúdio onde o Pink Floyd havia gravado The Wall. Enclausurados no castelo por meses e sem tv, internet ou contato por telefone com o mundo externo, Matt começou a discutir as inevitáveis guerras mundiais, controle da população e tirania que resultariam da iminente crise do petróleo, inspirado pelo livro Crossing the Rubicon, de Michael C Ruppert, um ex-investigador de narcóticos da polícia de Los Angeles. Apavorados com aquilo que ouvia, a banda deixou as barbas crescerem e pensou em comprar gado e armas para viver da terra e se proteger, e até começou a se perguntar se a Terceira Guerra Mundial já não havia começado e eles é que estavam isolados demais para ter ouvido fala nela. O resultado: Take a Bow.