Tudo sobre a banda britânica Muse formada por Matt Bellamy, Dom Howard e Chris Wolstenholme.

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Especial NME: "Se você publicar isso, vão achar que sou louco" (Parte I)

Matéria publicada na revista NME em novembro de 2001 e republicada em maio de 2010 como edição de colecionador. Texto de Victoria Segal.

Preparando-se para seu show na Docklands Arena, o Muse quer dividir algumas coisas conosco: mais especificamente, os segredos do seu sucesso e os mistérios do universo.

Eles são, diz Federica, 15 anos, “muito profundos”. Para Stephania, goticamente reprimida em sua camisa do Cradle of Filth, “eles são ainda mais animados que qualquer banda de black metal”, enquanto segundo Anna e Erica, 17 anos, fãs de pele clara do Led Zepellin, “eles nos fazem sentir algo que as outras bandas não conseguem”. Essa noite, o Muse lidera o Pala Vobis com capacidade para seis mil pessoas, uma arena em forma de um monstruoso inseto se aninhando no meio do nada em Milão, na área industrial. Mesmo às quatro da tarde, a aparição deles é intensamente esperada pelos adolescentes nos portões.

Talvez seja por causa de sua tendência musical mais extrema, mas as pessoas que gostam do Muse, gostam de verdade. Eles são o tipo de banda que não tem tantos fãs como devotos. Ocupando seu próprio mundo frio com loucura e confusão, fazendo música que arrasa e troveja com a paixão dramática de emoções hormonais que batem à porta – não é surpresa que o Muse provoque uma reação igualmente intensa em seu público.

Ontem à noite tivemos uma pequena reunião e eu estava conversando com umas pessoas, explica o cantor Matt Bellamy, sentado no hotel bem arrumado da banda na tarde seguinte, e de repente alguém começou a agarrar meu pescoço e a puxar minha corrente, e eu pensei ‘nossa, eu sou humano’. Ele pausa de maneira pensativa. Talvez porque estávamos seminus e tínhamos luzes azuis enroladas em nosso corpo, eles acharam que éramos uma obra de arte com a qual se pode brincar.

Essa é a sua fantasia comum depois do show?

Às vezes vamos a lojas de roupas chiques e estocamos máscaras, luzes e apetrechos, diz Matt. Fica um pouco mais social quando todos estão fantasiados, faz com que as coisas não virem uma sessão de autógrafos.

O baterista de cabelo azul, Dom Howard, se inclina para frente empolgado:

Tenho um chapéu de caubói que vai ficar muito legal. Ele é branco com uma estrela nele.

Tenho um sombreiro gigante, que tem mais ou menos um metro largura, admite o baixista Chris Wolstenholme. E Matt? Tenho um chapéu de policial francês com um visor que abaixa, aí eu fico por trás dele. É como um capacete de guerra!

Ah sim, muito profundo.

Quando o Muse apareceu pela primeira vez com suas rapsódias boêmias para a geração pós-grunge, poucas pessoas imaginaram que esse curioso híbrido musical seria capaz de vender vinte mil discos (como o seu último álbum, Origin of Symmetry, vendeu só na Grã-Bretanha) ou que ele precisaria de um local do tamanho do Docklands Arena de Londres, com capacidade para doze mil e quinhentas pessoas. Afinal, eles tocam no espírito da época somente se você por acaso vive num mundo pré-antibiótico de loucura sifilítica e láudano sem receita médica. Em 2001, quando todos os cantos são cobertos pela maldição do nu-metal, gentil angústia ao estilo de Buckley e grupos elitistas de americanos, eles parecem uma banda que só um louco poderia amar.

Ainda assim, enquanto o Muse pode acabar sendo o rock moderno do Sr. Creosote – música tão cheia de grandeza e ornamentos que mais um toque de piano da finura de um wafer poderia fazer tudo explodir – seus dois álbuns, Showbiz e Origin of Symmetry, atingiram um acorde épico com um enorme público em crescimento.

Vamos constantemente beirar territórios vergonhosos, um certo exageiro, Matt ri. Mas talvez isso signifique apenas tentar revelar o que está dentro de nós. Se você tirasse o baixo, a bateria, a guitarra, o microfone e me colocasse num quarto sozinho, em alguns momentos eu iria parecer um maníaco constrangedor gritando. Um pouco engraçado, talvez.

A histeria, no entanto, está correndo solta no Pala Vobis ainda antes de Plug In Baby ter a chance de entrar em frenesi. O principal assunto das conversas de hoje são as notícias alegando que dois garotos de 14 anos, no sul da Itália, esfaquearam uma garota “em nome” de Marilyn Manson. No ano passado, Manson foi considerado responsável pelo comportamento de três garotas de escola que foram culpadas por assassinar uma freira enquanto ela andava pela sua cidade pequena. O rock’n’roll não está exatamente fazendo boa publicidade na Itália nesse momento.

“Isso é alienação?” suspira sabiamente a fã Stephania. “Depende do que se passa na sua cabeça. Não é o Marilyn Manson que te faz matar pessoas. Não é o Matt Bellamy que te deixa alienada. Existem crianças que escutam música clássica e são alienadas”. Você pensa em Bellamy, um fã de Berloiz, martelando no piano com um crescente abandono barroco, um Fantasma da Ópera que vai além da Sarah Brightman, e vê que talvez ela tenha uma certa razão. A banda disse que notou uma predominância de camisas do Slipknot na platéia, mas o papel do Muse na duradoura arte da alienação não tem quase nada a ver com a raiva preocupante e necessitada de aconselhamento.

Assim como os Manics tiveram sua onda de automultilação, o Smiths encorajou o celibato e tributos florais, e o Suede deu poder à ambivalência sexual, o Muse oferece algo a aqueles que percebem que refletir sobre a morte ao som de Rachmaninov pode assustar seus pais e impressionar seus amigos mais que os surtos de petulância nu-metal do Identikit.

Não conheço ninguém que saiba muito sobre isso, Matt vai dizer. Não conheço ninguém que seja completamente… borg.

Talvez não seja coincidência que a trilha sonora da turnê acabe sendo do The Smiths. Matt cita versos de Half a Person e How Soon Is Now? durante a conversa, enquanto The Best of The Smiths forma uma trilha sonora incongruente da reunião após o show no camarim meio bunker do Pala Vobis. Ao som de Please Please Please Let Me Get What I Want tocando melancolicamente ao fundo, um grupo de lindas garotas milanesas abre seu caminho pela trilha de luzes azuis. Uma delas, percebe-se, já esta usando o capacete de guerra.

Continua amanhã!

Comments: 6

  • Izaa.

    20 de agosto de 2010
    reply

    Amo esses doidos!

    • Cris_of_Cydonia

      21 de agosto de 2010
      reply

      Amo esses doidos! [2]

  • coltsfan

    21 de agosto de 2010
    reply

    essas matérias tao muito boas!! hehe
    NME<3

  • dannyy

    21 de agosto de 2010
    reply

    MUSE só descendo a madeira!!!
    🙂 🙂 🙂

  • dannyy

    21 de agosto de 2010
    reply

    Quando eu vejo esses depoimentos de fãs tão cultos e inteligentes eu me sinto uma fã tão mediocre.

  • indyyyy

    8 de outubro de 2010
    reply

    uhhuuu!! adoro MUSE d++++++

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